publicado originalmente em: Diário de Pernambuco - PE, 15/05/2013 - 06:58
Conforme o MS só nos dois primeiros meses de 2013 foram internadas 1. 339
pessoas por tentativa contra a própria vida
Jorge Roberto Fragoso Lins *
O suicídio nunca foi um tema que fosse debatido mais amplamente em nosso país, em verdade,sempre existiu uma grande resistência, dando-se pouca importância a sua problemática e,sobretudo, a sua prevenção. Provavelmente, o silêncio ocorra por se temer um efeito em cascata, caso tal temática viesse à tona. No entanto, o contexto atual radiografa uma realidade que demanda a quebra de tais resistências, saindo da inércia habitual para um amplo debate que contemple políticas públicas e estratégias de prevenção, haja vista os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde ao banco virtual, que assinalam 22 casos por dia de tentativas.
Conforme o MS só nos dois primeiros meses de 2013 foram internadas 1. 339 pessoas por tentativa contra a própria vida. No Brasil, é o quarto motivo mais incidente entre os óbitos por causas externas, atrás dos homicídios, acidentes de transporte e causas não identificadas. São vários os determinantes envolvidos que podem provocar o evento, entre eles estão as doenças físicas incapacitantes, conflitos pessoais, transtornos mentais, síndromes depressivas e psicóticas como a esquizofrenia, uso excessivo do álcool e outras drogas, aspectos situacionais como o econômico e o desemprego e profissões estressantes como a policial. No início da proliferação da aids em que ainda não existia tratamento para o HIV, também assinalou na época um alto índice de suicídio de indivíduos infectados com soro positivo. Com o tratamento,
este panorama deixou de existir.
O suicídio não é um fenômeno que se aproxime de outros tipos de eventos de mortes, porém sua frequência está aumentando, sobretudo, nos jovens e, pasmem, já existem sites que disseminam formas do indivíduo tirar a própria vida, como também músicas, clipes e filmes que mostram o suicídio de uma forma artística, ou seja, até para isso o glamour está presente, a isso o diga Debord e sua visão da sociedade do espetáculo.
Acreditamos ser pertinente diante de tal visão, subentender certa fragilidade psicológica e emocional na estrutura de alguns indivíduos que poderia predispô-los ao evento, a se somar com a história de vida de cada um.
O suicídio é um evento que pega os familiares de surpresa. No entanto, é importante prestar atenção em alguns indicativos que assinalam que algo pode estar errado com a pessoa, como por exemplo, o isolamento, a apatia ou estado depressivo, o próprio discurso da pessoa que em muitos casos fala sobre sua intenção ou reiteradas vezes fala sobre morte, etc. Os sentimentos de perplexidade, impotência, fracasso, desespero e de raiva pelo que a pessoa fez são possíveis reações dos familiares rente ao trauma sofrido. Diante do universo de pessoas que atentam contra a própria vida existem os grupos dos que realmente acham que viveu tudo o que tinha para viver, que a vida não tem mais sentido, ou que não enxergam uma saída para uma situação difícil que está vivendo. Há outro grupo que não quer necessariamente morrer, mas quer mudar aquela situação. Existe outro grupo que o ato suicida é um grito de socorro. Enfim, o que se observa, portanto, na grande maioria dos casos é que, depois de uma tentativa mal sucedida vem o arrependimento, mostrando claramente que esse indivíduo só necessitava de uma atenção e um acolhimento. Não basta apenas prescrever receitas ou encaminhamentos, escutar o que tem a dizer esse sujeito é tirar uma tonelada de angústia de suas costas.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado
em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.