* Jorge Roberto Fragoso
Lins
Segundo a
psicanálise, o obsessivo é um indivíduo que foi investido pelo desejo materno
como objeto privilegiado de seu investimento fálico, tornando-se um eterno
nostálgico do “ser”, ou seja, de ser o falo da mãe, ou melhor, dizendo, de ser
o suplente que irá preencher um vazio. Vazio provocado por uma lacuna que
existe na relação entre a mãe – mulher e o marido.
A nostalgia
do obsessivo está na lembrança de um modo de relação que a mãe manteve com ele,
uma relação que o colocou em posição de passividade sexual, e é justamente essa
posição que produz o gozo no obsessivo, em outras palavras, a criança é
induzida a uma incitação à passividade. A mãe busca um complemento de sua
satisfação e chama o filho a suprir a falha que existe em seu gozo materno. Não
confundamos tal comportamento como um ato perverso.
Para melhor
compreensão vamos estabelecer uma diferença entre à lógica da neurose-obsessiva
e à lógica da perversão. No primeiro, trata-se de uma suplência à satisfação do
desejo da mãe por considerar que a satisfação que a mãe tem com o pai é
insuficiente. Na neurose obsessiva do ponto de visto edipiano existe o
reconhecimento do pai e da castração. Já, no segundo, não existe o recalque, portanto
não existe o reconhecimento da instância da lei, ou seja, do pai, mas uma
renegação (Verleugnung), que corresponde a uma dupla posição a um só tempo.
Existe o reconhecimento de que a mãe não tem o falo, mas também a negação desse
reconhecimento.
Na
representação da criança a mãe tem o falo, mas esse falo é deslocado para um
fetiche, e assim renega-se a diferença sexual, ou seja, todas as mulheres têm o
falo, a saber, o pênis. No que se refere à relação tripartite, pai, mãe e
filho, o primeiro é excluído, ou pela ausência de um amor entre o casal, ou por
falta de desejo desse homem por essa mulher ou vice-versa, ou porque o pai é
extremamente fraco. Enfim, a relação mãe-filho é uma relação extremamente
colada – que fique claro que essa relação colada da qual me refiro não é a
simbiótica que favorece as psicoses – e o filho torna-se objeto de desejo da
mãe. Tomo um exemplo de um caso que tive conhecimento por uma professora da pós
em psicanálise da qual cursei, que uma mãe continuava amamentando um filho que
já havia completado quinze anos de idade. Tal ato configura-se em uma relação
sexual entre mãe e filho, em um incesto. Portanto, em um ato perverso.
Tecidas as
devidas diferenças entre as duas lógicas, retomaremos a lógica obsessiva. A mãe
do obsessivo apareça aos olhos do filho como parcialmente insatisfeita, como um
vazio a ser preenchido por ele. Nessa relação o filho ocupa uma posição de
suplência de um gozo que a mãe não possui na relação com o companheiro. É
importante lembrar que ocupar o lugar de objeto de suplência do desejo da mãe é
ocupar a suplência da satisfação do desejo materno, por achar que a satisfação
que a mãe tem com o pai é insuficiente.
A mãe que
age dessa forma deixa a criança presa a uma condição de suplência, e como tal experiência
ocorre prematuramente à criança aferrar-se ao desejo insatisfeito da mãe. Será
através de sua identificação fálica, ou seja, de sua passividade
sexual em relação à mãe, que a criança obsessiva passará pela passagem do
“ser” ao “ter”. Esta passagem terá um complicador em especial para o obsessivo
que não tem para os outros neuróticos. O que deveria ser apenas
uma insatisfação ao transitar do lugar do “ser” para o “ter”, ocorre
uma retenção, ou seja, o sujeito fica preso na relação de suplência que mantém
com a mãe, isso porque a criança não conseguiu mediatizar seu desejo. O
obsessivo não deixará de lembrar a que ponto essa experiência precoce de prazer
com a mãe constitui para ele um obstáculo na economia do seu desejo. A criança
que é colocada como objeto de suplência é extremamente seduzida pela mãe que a
induz a uma incitação sexual e, consequentemente, a um gozo. Este gozo
prematuro, extremamente provocante e incestuoso será também o pior dos
fantasmas, o pior dos pesadelos para o sujeito.
Todos nós
sabemos que o desejo só se constitui quando existe a falta. Será por ser
marcado pela falta que o indivíduo se torna um sujeito desejante. No neurótico
obsessivo, entretanto, a mãe não concede o tempo da falta sufocando a criança
com o seu desejo. Na dinâmica do desejo é importante dizer que ele se separa da
necessidade para então formar-se em demanda. No obsessivo, no momento em que o
desejo é separado da necessidade, ele é imediatamente tomado pela mãe
insatisfeita que encontra aí um objeto de suplência possível.
O caráter do
desejo do obsessivo é sempre apressado ou, melhor dizendo, apressa-se em ter a
posse do que quer, ou seja, não é para onde e nem tampouco para amanhã, mas
para já! Por que o obsessivo se comporta dessa maneira? Porque o seu desejo é
carrega para insígnia da mãe, ou seja, está e sempre esteve carrega pelo fazer
da mãe que não concedia o tempo necessário reservado para o imperativo e
exigência da necessidade produzir uma demanda, uma demanda de amor, que pudesse
existir o que é mais precioso na constituição subjetiva do sujeito, a saber, a
falta.
O acesso ao
universo do desejo e da própria lei – figura de autoridade – para o obsessivo
constitui algo problemático já que, tal relação reaviva a imago paterna ou,
melhor dizendo, reaviva a relação que mantém com o pai. O obsessivo é
extremamente vulnerável a perda, a perda de algum objeto lhe reporta à
castração e, portanto, a uma falha em sua imagem narcísica.
Os
obsessivos como tem dificuldades em formular uma demanda se sentem obrigados a
assumir o lugar de objeto do gozo do outro, repetindo assim, o papel que sempre
tiveram. Coloca-se numa condição favorável de tudo para o outro, e como já
mencionamos, não suporta perder tal posição e busca de toda forma controlar e
dominar para que o outro não lhe escape isso porque a perda de alguma coisa lhe
reporta à castração e a uma falha em sua imagem narcísica.
Não é que
não exista desejo no neurótico obsessivo, mas a forma de como ele vai lidar com
o seu desejo é que será problemático já que, tal condição de demandar partia da
mãe. No entanto, quando o mesmo acontecer terá sempre o selo do
imediatismo. O desejo do obsessivo comporta sempre a marca cruel da
necessidade. Necessidade de quê? De permanecer na eterna suplência de favorecer
o desejo e o gozo da mãe. Os obsessivos são os nostálgicos do “ser”
que lembram sempre a relação que tiveram com a mãe, estando eles presos a esta
relação.
O obsessivo
tem uma relação de rivalidade com o pai e ao mesmo tempo de culpa, pois ele
busca substituir o pai junto à mãe. Essa relação transpassa para o
comportamento desse sujeito na vida social. A preocupação em ter o lugar do pai
leva o obsessivo a todas as lutas para obter prestígio, a combates grandiosos e
dolorosos e é detentor de grande perseverança. Acrescenta-se a destruição do
complexo de Édipo a degradação regressiva da libido; o Supereu torna-se
especialmente severo e duro; já o Eu, por ordem do Supereu, desenvolve
importantes formações reacionais que tomam a forma de escrúpulo, da piedade, da
limpeza.
O que se
observa é que o obsessivo trava um forte conflito com tudo que se refere à
transgressão. O sujeito aparenta ser extremamente honesto, possui um grande
rigor moral, respeitador das regras e das leis, enfim, um indivíduo que
apresenta um escrúpulo intocável. No entanto, toda essa legalidade revela o
desejo inconsciente de transgredi-la. O obsessivo diante de seu objeto de amor
tende a repetir o mesmo que sua mãe fez com ele, ou seja, vai se empenhar para
que nada falte ao outro e não seja, portanto, levado a sair do seu lugar. O
universo do outro deverá ser ordenado e será através dessa ordenação que nada
tem de democrática, mas extremamente totalitária, que o obsessivo controla e domina
a morte desejante do parceiro. Um exemplo clássico é o discurso de alguns
homens que dizem: “não lhe falta nada, ela tem tudo em casa, ela não precisa
trabalhar, e assim por diante. Outro aspecto da economia do desejo está no
caráter da necessidade do dever que margeia a organização obsessiva do
prazer.
Formulando
uma etiológica sobre a neurose obsessiva, Freud (1894 a 1905), estipula
dois tempos de ordem. No primeiro tempo ele diz: houve na infância uma
excitação sexual precoce (de início supostamente provocada pelo adulto, após
1897, supostamente espontânea). Se esse trauma é sofrido passivamente na
histeria, por outro lado houve atividade com prazer na neurose obsessiva. No
segundo, ele menciona que os afetos que dele decorrem são inconciliáveis com o
Eu (Moí). Esses afetos se desprendem de suas primeiras representações para
operar uma “falsa ligação” com novas representações por deslocamento.
Essa
substituição representa uma defesa do Eu. Não existe recalque sem a volta do
recalcado. Ao contrário da histeria que o recalcado vem através da conversão
somática, na neurose obsessiva, vem por transposição para outras representações
que sejam mais conciliáveis com o Eu. São estas as obsessões propriamente ditas
como formações de compromisso, como auto-reprovações, inibições em agir,
isolamento de uma representação, anulação de acontecimentos passados, rituais
privados. As defesas do Eu se incumbem de realizar uma regressão ao estágio
anal. Em seu artigo datado de 1908, “Caráter e erotismo anal”, Freud estabelece
o vínculo entre o objeto anal e a neurose obsessiva com sintomas de preocupação
de ordem ou de limpeza e com os de teimosia.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado
em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de
psicologia.
vivo isso com minha segunda mulher e fico perplexo,tenho 65 anos ela 48 a 7 anos venho lutando com isso. ate chegar em sua pagina publicada,embora nem prazer tenho mas com por ela ja pedi o divorcio ela noa aceita,quais medidas posso tomar mediante essa situação ?
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