terça-feira, 25 de junho de 2013

ESPELHO, ESPELHO MEU




Fonte: http://aanorexiapodematar.blogspot.com.br/

Por Jorge Roberto Fragoso Lins *

            É certo afirmarmos que o espelho reflete sempre a imagem de quem está de frente dele ou nem sempre isso acontece? Por sermos constituídos através da cultura será que a nossa visão, sobretudo, de nós mesmos, também se prenderia ao referencial que a cultura estabelece do social? A vida nos responde que sim, que nem sempre o espelho reflete fidedignamente a imagem de quem se põe de frente dele, pois em muitos casos, a imagem que é refletida é a psicológica, ou seja, a imagem que a pessoa possui de si mesma, a qual não se coaduna com a corporal, a imagem da qual o espelho reflete.      
      
O conceito de imagem corporal é, sobretudo, um conceito multidimensional, que envolveria pensamentos, percepções, estado de espírito e sentimentos conscientes e inconscientes que constituiriam o corpo da pessoa como algo único e diferente de todos os outros. Mas, o que observamos na cultura contemporânea é que estamos cada vez mais nos distanciando desse conceito, perdendo, assim, um corpo que representaria a identidade do indivíduo para se construir um corpo sem identidade, mas que obedeceria aos padrões que a cultura, sobretudo, a mídia, estabelece como corpo ideal. Seria, portanto, esta a causa do descontentamento e adoecimento psicológico de muitos jovens e adolescentes em relação aos seus próprios corpos, ou seja, o desejo de ter, a todo custo, sua imagem corporal associada a uma imagem escultural que tanto a cultura ostenta como ideal, a isso, entregam-se a atividades físicas exageradas e ao uso de anabolizantes.           

O que passa despercebido é que a imagem corporal faz parte da identidade do indivíduo e que essa imagem é constituída pela soma da integridade física e psicológica da pessoa. A descompensação entre essas duas poderá desencadear numa ruptura do senso de realidade e o indivíduo poderá ver sua imagem corporal diferentemente daquela que está sendo refletida pelo espelho, mas sim a autoimagem que está fixada em sua mente, como no caso do indivíduo anoréxico, que mesmo estando magérrimo se vê sempre gordo. Tanto a anorexia como a bulimia são transtornos alimentares que decorrem de causa psicológica.  

            Na anorexia, o indivíduo apresenta um comportamento persistente em manter seu peso corporal abaixo dos níveis compatíveis com sua estatura, existindo uma percepção distorcida quanto ao seu próprio corpo, levando a pessoa a se ver como "gorda", mesmo já estando magérrima ou mesmo esquelética.  Os indivíduos anoréxicos além de se submeterem a uma dieta destruidora ou mesmo jejuarem, poderão praticar exercícios em excessos, provocar o vômito, tomar diuréticos e usar laxantes. O anoréxico em estado avançado do transtorno, apresenta peso corporal em 85% ou menos do nível normal. Em mulheres, ocorre a ausência de, ao menos, três ou mais menstruações e diminuição ou ausência da libido. Nos homens, disfunção erétil. Em ambos os sexos, descalcificação dos dentes, cárie dentária, depressão profunda, tendências suicidas entre outros. Muitos anoréxicos morrem por inanição, suicídio ou desequilíbrio dos componentes sanguíneos. Na bulimia, o indivíduo apresenta episódios recorrentes e compulsivos de comer muito em um curto espaço de tempo e depois, provoca o próprio vômito, como também, através de laxantes, evacua para não ganhar peso. O bulímico possui problemas nos dentes e gengivas, desidratação, fadiga, humor depressivo e variável, transtorno de ansiedade entre outros. Muitos tentam lutar sozinhos para controlar sua compulsão, mas são derrotados por uma força maior que os domina.

            Não há dúvida de que existe um ou mais de um componente psicológico que punciona a compulsão e que só ao chegar nele e o mesmo for tratado é que o sintoma cessará. O funcionamento mental de uma forma geral está preservado, exceto quanto à sua autoimagem e pelo comportamento compulsivo de emagrecer ou de comer.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.

Artigo publicado no Jornal Diario de Pernambuco na edição de 23/08/2012.





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