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FACULDADE
DE CIÊNCIAS HUMANAS DE OLINDA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM
PSICOLOGIA
JORGE
ROBERTO FRAGOSO LINS
Fonte: http://blog.cancaonova.com/diariodeumconsagrado/
DEPENDÊNCIA
PELO SEXO VIRTUAL: UM
GOZO SOLITÁRIO QUE NÃO NECESSITA DE PARCEIRO.
OLINDA
2013
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JORGE
ROBERTO FRAGOSO LINS
DEPENDÊNCIA
PELO SEXO VIRTUAL: UM
GOZO SOLITÁRIO QUE NÃO NECESSITA DE PARCEIRO.
Projeto apresentado como instrumento
de avaliação final da disciplina Português Aplicado ao TCCI, ministrada pelo
Profº. José Jacinto Santos.
OLINDA
2013
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SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO............................................................................................................04
2 FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA................................................................................08
3 METODOLOGIA.........................................................................................................15
4 REFERÊNCIAS..........................................................................................................16
1INTRODUÇÃO
O mundo contemporâneo cada
vez mais elege o hedonismo e o consumismo como objetivos de vida a serem
alcançados, e em muitos casos, existe uma completitude entre ambos, favorecendo
a obtenção do prazer ou evidenciando a recusa de um desprazer. Para o indivíduo
de nossa Era, a tristeza e a frustração é algo da ordem do insuportável, que
nem por um breve instante se admite sofrer, levando o mesmo a recorrer a
intervenções químicas ou a alguma dependência que reestabeleça o prazer. Mas,
como definir esse prazer tão obstinadamente procurado por esse sujeito
contemporâneo? Estaria ele, além do princípio do prazer, a saber, do gozo
insofreável, ou seja, da repetição desse gozo?
Como
pensar em uma sociedade que é movida por essa demanda e que nem ao menos se dá
conta dela? Por quais caminhos estamos trilhando e aonde iremos chegar? Dizer
que a sociedade encontra-se em meio a uma anestesia de um pensar reflexivo
sobre ela mesma não seria de tão arbitrário, assim, pois o que se observa é a
perda da singularidade necessária ao crescimento de cada indivíduo em prol de
um desejo que pertence ao Outro, que é apenas experimentado como se fosse
próprio, ou seja, a cultura impõe ao sujeito acerca de como ele deve ser,
viver, desejar e pensar, tendo como sustentação de vida, o prazer.
O
termo hedonismo vem do grego que significa prazer. Esse termo foi tirado das
teorias dos epicuristas e dos cirenaicos na Grécia antiga, baseando-se na ideia
de que o prazer é o maior bem que o homem poderia ter. Ao contrário do que se
busca na contemporaneidade, o prazer da carne e o gozo, os epicuristas acreditavam que os homens deviam buscar os prazeres da
mente, e o sábio que evitasse os prazeres, mais tarde a falta desse prazer
poderia lhe causar dor. Observamos, aí, uma total discrepância das
representações dadas ao termo.
O gozar leva à necessidade da repetição, da compulsão a
repetição como funcionamento que produz prazer, mas não deixa de ser da ordem
do inominável, do objeto impossível – das Ding, podendo levar a dependência e o
retorno ao estado inorgânico. Portanto, estamos falando da pulsão de morte, que
tem o sentido de retornar ao estado anterior de coisas, retornar ao inorgânico.
Quando nos referimos às novas dependências, também
queremos abordar as novas adicções
que compreendem todas as formas de dependência nas quais pode ou não está
implicada substância química, a saber, dependência do jogo de azar, da
internet, de ver televisão, do sexo, da comida, de fazer compras e de enumeras
outras que são observadas no cotidiano de qualquer cidade que sofra o mínimo de
influência globalizante. O que provoca preocupação é que no dia a dia das
pessoas tais comportamentos estão assumindo claras características patológicas,
ou seja, levando ao adoecimento físico e mental.
Segundo
Guerreschi (2007, p. 19), “dependence
indica a dependência física e química, a condição na qual o organismo necessita
de uma determinada substância para funcionar, e por isso a quer”. Para o mesmo
autor, “addiction indica uma condição
geral na qual a dependência psicológica impele à procura de um objeto, sem o
qual a vida se torna sem sentido”. No entanto, conforme Guerreschi, nem sempre
as duas aparecem juntas. O que leva a pensar que pode existir uma forte
necessidade de realizar algum tipo de comportamento significativo sem que ele
seja uma dependência.
O fato é de que mais e mais pessoas de uma forma ou de
outra estão sofrendo de algum tipo de dependência, chegando alguns ao
adoecimento físico e psicológico. Resta-nos pensar que o crescente quadro
refere-se a uma necessidade de preencher algum vazio, de extravazar alguma
ansiedade ou enfado, estimulando comportamentos que tragam prazer imediato,
característica bem comum desse sujeito contemporâneo. Não deixando de lado que
o avanço do progresso tecnológico possa contribuir nesse contexto, provocando
novos hábitos que poderão ou não fomentar tais comportamentos. Portanto,
problematizar todas as nuanças que envolvem o comportamento do homem
contemporâneo, buscando compreender todo um contexto que ainda se apresenta
como enigmático, é também uma forma de sinalização para o tratamento desse
sujeito que adoece sem saber que está doente, que busca a satisfação sem ter
limites, que deseja o que o Outro deseja, e por fim se é que existe um fim, que
vive a angústia do que a cultura demanda e não sabe viver a demanda de sua
própria singularidade, pois o mesmo não se esforça para saber quem de fato é,
sujeito ou objeto. Ou, o que se procura é o que nunca irá encontrar, a saber, o
objeto a.
Dentre as
muitas dependências consideradas adcitivas,
focaremos a nossa pesquisa na adicção
pelo sexo virtual ou dependência do sexo virtual, considerada uma dependência
de grande complexidade de tratamento, mas, sobretudo, da dificuldade de
reconhecimento do próprio dependente de que precisa de tratamento, pois,
satisfeita a necessidade pulsional do indivíduo através do contato com esse
objeto de gozo, a resposta subjetiva desse sujeito será repetir ou refazer o
mesmo caminho, com o desejo de encontrar a satisfação sentida pela primeira
vez. Ativado esse mecanismo, a pessoa ficará fixada a essa posição de gozo sem
querer sair desse lugar, criando, assim, as dependências do álcool e das drogas
ilícitas, do sexo e de tantas outras.
O sexo como objeto de
dependência não é nada inusitado, no entanto, endereçando a questão para as
novas dependências e das adicções, o situamos na esfera do virtual. Existem,
também, inúmeras outras que estão ligadas a essa instância, como a dependência
de jogos, leilões, redes sociais, compras etc. Sem ser pelo virtual,
encontramos a compulsão por compras, a dependência química de drogas lícitas e
ilícitas etc.
As
novas dependências trazem consigo novos conceitos e, portanto, uma nova visão
sobre as dependências. No entanto, as consequências negativas que são geradas
provocam tão ou mais sofrimentos do que as já conhecidas. Estamos falando de comportamentos compulsivos
que dominam o indivíduo, afetando não apenas ele, mas quem estiver ao seu lado.
A isso, observamos o adoecimento psíquico do sujeito que desencadeia também no
cognitivo e no emocional.
A importância de uma
contínua investigação sobre a temática representa também compreender melhor
esse novo sujeito contemporâneo e quais são as causas que o levam a esse
adoecimento. Inferir alguns aspectos de seu comportamento e de seu psicológico
é tentar entender, por exemplo, a busca da satisfação sexual ou o
estabelecimento de vínculos de relacionamentos sexuais. Em suma, é descrever um
pouco desse imaginário, da falta de um vínculo de convivência pessoal e de
outros fatores que se implicam direto ou indiretamente criando os sintomas
dessa nova sociedade chamada contemporânea. Porque o que estamos lidando é uma
dependência pelo sexo virtual: um gozo solitário que não necessita de parceiro.
E quais serão as conseqüências desse gozo para a vida do sujeito e para quem
está ao seu redor? Mas, antes de tudo, quem é esse sujeito dependente de uma
forma de satisfação sexual quase sempre solitária e apenas visual? Seria um
indivíduo que busca o fetichismo e o exibicionista, mas, sobretudo, o sigilo de
suas preferências?
A isso, podemos mencionar
a não obediência a Lei e a exaltação do imaginário, da fantasia. Esperamos no
transcurso de nossa pesquisa responder tais questionamentos e, assim,
contribuir com o meio científico, propriamente, dito, com a clínica psicológica
com essa crescente demanda que é a dependência do sexo pelo virtual.
A dependência do sexo
virtual trás para o indivíduo inúmeras consequências negativas que irão
refletir no seu social e, sobretudo, em seu relacionamento familiar, com
cônjuge, filhos e pais. É de salientar que nem toda dependência é compulsiva,
mas que poderá vir a ser.
Uma
dificuldade encontrada no tratamento clínico consiste na relação estabelecida
por esse sujeito com seus próprios sintomas, tornando-o muitas vezes
inacessível a um insight, ou seja, a
uma interpretação das possíveis causas que o levaram a essa ou aquela
dependência ou, a essa ou aquela representação imaginária que o conduz ao
gozo.
Schaeffer
cit. por GUERRESCHI (2007, p.16), “sustenta que o fulcro da dependência é a
experiência subjetiva, o modo pelo qual o objeto muda a condição do indivíduo.
A dependência não é um ‘vício’, nem uma doença, mas um processo que se instala
quando uma pessoa, em contato com um objeto, experimenta-se de modo diferente e
lê essa reestruturação de si mesmo como positiva e mais funcional”. Portanto, repetimos,
satisfeita a necessidade pulsional do indivíduo através do contato com o objeto
de gozo, a resposta subjetiva desse sujeito será refazer o mesmo caminho, com o desejo unicamente
de encontrar a satisfação sentida pela primeira vez. Tendo esse mecanismo
ativado, a pessoa ficará fixada a
posição de gozo sem querer sair de lá, criando, assim, o avatar de todas
dependências.
O sexo como objeto de
dependência não é nada inusitado, no entanto, endereçando a questão para as
novas dependências e das adicções, o
situamos na esfera do virtual. Existem, também, inúmeras outras que estão
ligadas a essa instância, como a dependência de jogos, leilões, redes sociais,
compras etc. Sem ser pelo virtual, encontramos a compulsão por compras, a
dependência química de drogas lícitas e ilícitas etc.
As
novas dependências trazem consigo novos conceitos e, portanto, uma nova visão
sobre as dependências. No entanto, as consequências negativas que são geradas
provocam tão ou mais sofrimentos do que as já conhecidas. Estamos falando de comportamentos compulsivos
que dominam o indivíduo, afetando não apenas ele, mas quem estiver ao seu lado.
A isso, observamos o adoecimento psíquico do sujeito que desencadeia também no
cognitivo e no emocional.
As
multiformas de dependência que se instalam na sociedade mundial sacrifica a
vida social do dependente e do co-dependente, ou seja, cônjuge, pais, filhos,
amigos etc. O co-dependente assume o papel de salvador, mas o dependente tende
a boicotar os esforços de seu “salvador”, por não entender o seu adoecimento
ou, então, por não ter forças para superar sua dependência (compulsão).
Estabelecemos
como objetivo geral de nosso projeto, compreender melhor esse novo sujeito
contemporâneo que busca o prazer ou o escoamento de suas angústias e ansiedades
pela via da dependência compulsiva do sexo virtual. Quanto aos nossos objetivos
específicos, buscaremos entender o adoecimento desse indivíduo que o afeta em
seus laços familiares e de amizade, trazer o conceito de compulsão pelo viés da
psicanálise e destacar as causas que levam a dependência pelo sexo virtual.
As
hipóteses que atribuímos a nossa pesquisa são elencadas a partir das seguintes
indagações: o sujeito contemporâneo ao buscar a satisfação de seu prazer pode
ficar escravo dessa satisfação, buscando meios que supram sua necessidade de
sentir prazer? O prazer quando não bem elaborado pelo indivíduo poderá
acarretar numa compulsão? As dependências compulsivas não estão atreladas apenas
as dependências químicas?
No
transcurso de nosso trabalho esperamos responder todos esses questionamentos
que poderão corresponder as nossas preocupações ou serem refutadas.
2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O
mundo contemporâneo é, sobretudo, um mundo de eclosões tecnológicas que
favorece a uma nova ótica de ver e experienciar a vida. É uma era enigmática que rompeu drasticamente
com o tradicional continuísmo cultural, estabelecendo outras normas de condutas antes desconhecidas
ou pouquíssimas usuais. A isso, observamos que o mundo atual, provavelmente
contrapondo-se aos excessos de autoritarismo existente nos séculos passados,
com o apoio da tecnologia, vem promovendo uma revolução dos costumes que
sinaliza para uma homogeneização das diferenças, ou seja, para um mundo com
pouquíssima singularidade, onde se hasteia a bandeira do tudo pode; do viver
para gozar, não importando por qual via seja; do consumismo desenfreado quase
ensandecido e pelos frágeis vínculos relacionais que se rompem com um simples
delete de e-mail. Cardoso (1996, p. 67), “sugere que as mudanças processadas no
modo de vida do homem e na organização da sociedade constituem um marco
delimitado de duas épocas, rompendo com a ética e os valores antes
professados”. No entanto, pelo entendimento de Da Point (2001), vivemos em uma
sociedade sem
herança, de indivíduos órfãos de ideais e de verdades simbólicas que correm
atrás da sedução das imagens que lhes são impostas de inúmeros modos. Na falta
de identificações tentam arrumar uma identidade que lhes permita viver os
instantes, identidades adotadas sem firmeza alguma, pois o mundo de hoje exige
volatilidade, mudanças, trocas, descartabilidade. (DA POINT, 2001, p. 12).
A
impressão que fica diante de toda essa volatilidade é de que tudo que acontece
está sobre uma espécie de plataforma giratória que se movimenta sobre um ângulo
de 180º e de forma contínua e acelerada, provocando situações novas e
surpreendentes de uma constante construção do comportamento e das relações
humanas, sendo que, de uma forma bastante peculiar a esse sujeito. A isso,
Bauman (2001) propõe a metáfora da liquidez, que para ele, descreveria bem a
sociedade atual. Para o sociólogo, esta sociedade caracteriza-se pela
incapacidade de manter a forma, ou seja, as referências, estilo de vida,
crenças, convicções e as próprias instituições estão mudando de forma tão
rápida que não estaria dando tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades.
“Os sólidos suprimem o tempo; para os
líquidos, ao contrário, o tempo é que importa” (BAUMAN, 2001, p.8). Conforme
Levy, que faz uma leitura psicanalítica sobre os fenômenos sociais,
a transposição da
psicanálise para o campo social está baseada na existência de uma memória, de
um imaginário, de emoções coletivas que impregnam, conscientemente ou não, a
psicologia dos indivíduos, e impõe sua lógica própria aos processos
organizacionais e grupais. Sob esse aspecto, os “fatos sociais” podem ser objeto
de processos de recalcamento, de esquecimento e, pois, de um trabalho de
desenvolvimento ou de análise. Mas essa lógica não é única; o campo social
comporta suas próprias regras, suas próprias leis, estudadas por outras
disciplinas, que a psicanálise não pode ignorar ou subestimar (LEVY, 2001, p.
44).
Freud
(1856-1939), em muitos de seus escritos, menciona o elo existente entre a
cultura e o inconsciente. Lacan (1958), ao fazer a releitura dos textos de
Freud, introduziu o conceito do Outro, delimitando o campo do simbólico e do
significante, afirmando que o inconsciente é o discurso do Outro. Será a partir
dessa enunciação que ele dirá que, “quem não alcançar em seu horizonte a
subjetividade de sua época, que o analista conheça bem o turbilhão que o arrasta
na obra contínua de Babel, conhecendo sua função de interprete na discórdia das
línguas (LACAN, 1953/1998, p.322).
Quando
Lacan enuncia que o inconsciente é o discurso do Outro, ele quer dizer que ele
só se reveste nesse sentido na medida em que for remetido a outro significante,
mas para isso é necessário que o sujeito faça parte da linguagem. Como o
significante é um sinal, ele poderá ser um sinal de ausência, mas de ausência
do Outro. Então, para que o indivíduo esteja estruturado pela lógica dos
significantes, ele deverá estar inserido no simbólico, onde as palavras estão
pelas coisas. Nesse propósito, ocorre o princípio da alteridade que é
compreendida a partir do que é proposto por Lacan ao teorizar as dimensões dos
três registros, a saber, o imaginário, o simbólico e o real, que se articulam
construindo o nó borromeu. Portanto, o princípio da alteridade parte do
pressuposto que é mediante o contato com o Outro que existirá o
“eu-individual”, possuidor de uma singularidade própria. É a concepção de que
todo homem social interage e interdepende de outros, ou seja, é um ser que
pertencente ao social, interage e depende de seu meio para viver.
No
entanto, o que se observa é uma forte inclinação para o individualismo e o
egocentrismo que, por sua vez, contribui na formação de indivíduos solitários e
descompromissados de vínculos afetivos mais consistentes. De acordo com o
pensamento de Birman (2003, p. 168), o que distingue a pós-modernidade é,
sobretudo, a cultura do narcisismo e do espetáculo, na qual o individualismo e
o autocentramento do sujeito tomam enormes proporções. Conforme o autor, “o
indivíduo da atualidade procura a exaltação do eu e, utiliza-se de todo e
qualquer modo de aparecer no cenário social seja através da estetização de sua
aparência, ou do uso do Outro como fonte do próprio prazer” (Ibid., p. 246).
O
virtual é a maneira mais prática e cômoda de se relacionar e de se buscar
prazer. É um não querer se dispor aos conflitos e as diferenças existentes numa
relação compartilhada offline; é
buscar o anonimato para ser outra pessoa ou para realizar fantasias, muitas,
pervertidas; é conhecer todas as pessoas do mundo e ao mesmo tempo não conhecer
ninguém; é reviver um antigo costume da infância e adolescência de escrever
experiências cotidianas no diário, agora através das redes sociais, e tantas
outras coisas que sujeito contemporâneo busca fazer apenas na companhia
solitária de seu computador. Que fique claro que, o que estamos frisando é a utilização do virtual de forma
equivocada e destorcida, e não seu uso sadio que se coloca como uma importante
ferramenta para inúmeras finalidades, haja vista a internet.
Fazer uma leitura sobre a
dependência sexual pelo virtual ou a adicção
sexual pelo virtual é compreender melhor sobre o fenômeno e seus vetores
estressores que causam o próprio adoecimento do indivíduo.
Segundo Guerreschi (2007, p. 15),
“a dependência atinge
o indivíduo em vários níveis; no comportamental ela se manifesta pela procura
de uma substância química ou pela repetição de um determinado comportamento;
paralelamente, em nível psicológico, a pessoa é totalmente absorvida pelo
objeto de sua dependência, de modo que não consegue evitá-lo e descuida-se do
resto, das relações afetivas ao trabalho etc.”
O
virtual parece ser apenas parte de um grande novelo que demandaria outros
aspectos, como o da cultura e da personalidade desse novo sujeito. Grosso modo,
parece que o sujeito contemporâneo tenta com suas ações tamponar alguma falta;
já, outros, buscam e só o além do princípio do prazer. Entretanto, ambos, por
motivos e sentidos pertinentes às suas particularidades, estão experienciando
cada vez mais e da forma que lhe convêm, o gozo. O sujeito contemporâneo é sem
sombras de dúvidas muito pulsional e “irá se definir pelo real do corpo, da
genética, dos psicofármacos, do sexo, da beleza, da velhice” (DA POIN, C. 2001,
P. 14).
Vive-se
em um mundo que não se admite a menor angústia, o menor sofrimento, a menor
tristeza que logo se busca o fim do mal-estar através da química. A cultura
atual dentre outras coisas posiciona-se contra a qualquer tipo de mal-estar, o
que nos deixa intrigado se isso de fato é possível e nos reporta a dois
questionamentos: que tipo de estrutura psíquica é essa que não suporta a mínima
angústia, a mínima tristeza, o mínimo mal-estar que logo parte para a
medicalização? Que sujeito é esse que não suporta sofrer? Que indivíduo é esse
que para se livrar de algum mal-estar recorre as mais variadas dependências
que, pelas repetições, tornam-se compulsivas? Afinal de contas, o mal-estar
representa fator constitutivo do sujeito, pois significa algo de sua realidade
e pelo que se parece, deseja-se a todo custo fugir de qualquer realidade que
traga infortúnios.
Segundo Melman (1992, p.
141), “as coisas começam a ir mal quando há um movimento de ideias, de modificações
éticas que começam a dizer que o mal-estar não é um bem”. A isso, leva-nos depreender que o sujeito contemporâneo
não busca se conhecer em sua integralidade, corpo e mente. Isto, porque é preferível
a fuga ao doloroso embate de se reconhecer no sujeito do inconsciente, onde
serão reveladas suas verdades, retendo-se, assim, apenas a subserviência de seu
discurso consciente que é muito mais prazeroso.
O
consumo apresenta-se como um dos grandes imperativos desse novo tempo, ou seja,
como um fenômeno que representa a lógica do moderno hedonismo, a saber, a busca
incessante do prazer. Debord (2006, p. 45) faz um neologismo interessante entre
o consumo e a dita por ele “sociedade do espetáculo”. O autor menciona um mundo
regido pela economia do consumo, tendo a mercadoria como centro absoluto da
vida social, gerando a passagem do ser
para o ter. Os objetos
substituiriam os valores éticos, onde ocorre uma ininterrupta fabricação de
“pseudo-necessidades”. O filósofo demarca a contemporaneidade centrando o triunfo
do individualismo em associação ao consumo e como demanda incessante de prazer,
criando modelos de subjetivação que acentuam a “exterioridade” e
“autocentramento” (p.108).
O
pensar de Debord só corrobora com o que se observa na realidade, um consumo
desenfreado que objetiva uma busca voraz pela satisfação do que pelo que de
fato é desejado, uma vez satisfeito em sua demanda, logo se projeta a
substituição por outro desejo. Agora, que fique bem claro que a expansão que
atualmente é dada ao consumo não se restringe a compras, mas de uma forma mais
genérica o que mais se consume é a imagem, que poderá ser de algum
objeto, um objeto quase sempre de fetiche, e a imagem do outro, como forma de
encontrar o significado da própria existência. Em suma, para que se possa sentir a prolongação de uma
satisfação, consome mais e mais. Portanto, estamos falando do mesmo mecanismo
existente na dependência das drogas, ou seja, da repetição, da compulsão.
Recorrermos
ao dizer de Freud, quando (1930/1974) ele dizia que,
o que chamamos de
felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência,
repentina) de necessidades representadas em alto grau, sendo, por sua natureza,
possível apenas com uma manifestação episódica. Quando qual que situação
desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um
sentimento de contentamento muito tênue (FREUD, 1930/1974, p. 95)
Portanto,
é por ter um sentimento de contentamento muito tênue que logo é dissipado, que
o sujeito correrá atrás de repetir a ou as experiências que o levaram a
satisfação ou, mesmo, partir para outras, já que uma compulsão poderá motivar o
surgimento de outras em uma sistemática migratória que favoreça a manutenção da
satisfação, ou melhor, dizendo, do gozo, a saber, recorrendo ao consumo das
drogas lícitas como as bebidas alcoólicas, extremamente propagadas mela mídia,
ou das drogas ilícitas como a maconha,
cocaína, heroína, crack, ecstasy, LSD e tantas outras.
Farah
(2002) assinala uma completa inversão na atualidade do que preconizou Freud
sobre a noção de felicidade efêmera:
[...] o sujeito hoje
não hesita em trocar segurança por felicidade imediata. Com a depreciação da
história e ênfase no presente, a satisfação não pode ser depositada no futuro.
Tem que ser consumida instantaneamente. A passagem da sociedade moderna pode
ser entendida a partir do deslocamento sugerido por Zygmunt Bauman: a passagem
da ética do trabalho para a estética do consumo. (FARAH, 2002, p. 41).
Diante
de tudo que foi exposto fica patente à pressa que o sujeito contemporâneo tem
em querer se satisfazer, não importando como, e também que o móbil muitas vezes
é pela via do devaneio ou da fantasia, colocando-se em um lugar de extrema
supremacia narcísica. A satisfação poderá ocorrer única e exclusivamente pela
solidão de seu imaginário, através, por exemplo, numa sala de bate-papo, em um cybersexo, nos jogos, leilões e em toda
forma de consumo.
Outro
aspecto imperativo nos dias atuais é o da evitação a qualquer tipo de
sofrimento, seja ele qual for, e para isso, o melhor caminho a ser tomado é o
de recorrer à química. Quando, não, busca-se eliminar o mal-estar através de
uma satisfação imediata, pois o sujeito contemporâneo age levado pelo
imediatismo das coisas, procurando, então, um meio, um escape para sua tensão.
A
isso, observa-se que a instância proibitiva representada pelo supereu que
deveria internalizar a cultura e as leis, legitimando, assim, sua função de
censura. Hoje, parece estar em forte decadência ou a serviço das pulsões.
Provavelmente, em decorrência pelo declínio social da imago paterna. A
exigência de satisfazer as pulsões é o que prevalece no mundo contemporâneo,
mesmo que para isso se chegue ao adoecimento das compulsões severas, quer
através da química ou não. Abre-se, então, as portas para as novas compulsões,
compreendidas como adicção. A
palavra “adicção” tem sua origem
etimológica no antigo Império Romano, conforme apontam alguns antropólogos e
historiadores. Adicção, na lei Romana, segundo a enciclopédia francesa do
século XVIII de Diderot e D’ Alembert, “é a ação de fazer passar ou de
transferir bens a um outro, seja por sentença de uma corte, seja por via de
venda àquele que oferece mais”(1751/1988, p. 128).
O
termo adicção, objetivando o seu
aspecto prático atual, extraia da ideia de submissão à dominação de alguém para
formar o sentido de escravidão a uma dependência compulsiva. A essa dependência
é que a investigação de nossa pesquisa se pautará, buscando aspectos
norteadores que nos façam compreender melhor a sujeição e escravização desses
sujeitos a essa modalidade de dependência, a isso fazendo uma breve análise do
social e de quais são as implicações desse contexto para o psicológico e
vice-versa.
No decorrer de nosso texto
ficou claro que as adicções, mesmo
que em algumas não sejam impulsionadas pela química, não deixam de funcionar
como uma droga que provoca a dependência e a compulsão. No que se refere à
adicção sexual pelo virtual, o vínculo da dependência compromete extremamente a
pessoa e, dependendo do nível de comprometimento que atingiu, o dependente não
mais se preocupa ou fica mais relapso em suas práticas, podendo ser flagrado
por outras pessoas, principalmente pelas mais próximas em pleno ato
masturbatório. A ocorrência de tal fato mostra o quanto esse sujeito está
adoecido.
3
METODOLOGIA
Podemos
chamar de metodologias os conjuntos de métodos empregados para que se possa
desenvolver qualquer atividade. De acordo com as afirmações de Gonsalves
(2001), “a questão metodológica é ampla e indica um processo de construção”.
A metodologia de pesquisa norteará a pesquisa, a fim de atingir os
objetivos propostos. O objeto de pesquisa, diz respeito a produzir uma leitura psicanalítica
da dependência sexual pelo virtual ou a adicção sexual pelo virtual. A nossa
investigação será segmentada pelos sólidos fundamentos da psicanálise
Freud-Lacaniana e autores contemporâneos.
A
abordagem metodológica que guiará o presente estudo é de natureza predominantemente
bibliográfica, pois como afirma Lakatos e Marconi (1987):
a pesquisa
bibliográfica trata-se do levantamento, seleção e documentação de toda
bibliografia já publicada sobre o assunto que está sendo pesquisado, em livros,
revistas, jornais, boletins, monografias, teses, dissertações, material
cartográfico, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com
todo o material já escrito sobre o mesmo. (LAKATOS & MARCONI, 1987, p. 66).
Portanto, optamos por uma
pesquisa que possibilite a construção de um corpo de conhecimentos relacionados
à temática, objetivando, assim, fazer uma leitura analítica das questões
elencadas em nossa investigação. Tendo em vista a realização de uma leitura
analítica, esta por si só também compreenderá uma reflexão sobre a temática de
nossa pesquisa. Trabalharemos com autores consagrados em seus saberes que
abordam a temática com uma profunda precisão e sapiência, autores como
Guerreschi em foca com uma precisão cirúrgica a questão da dependência pelo
sexo virtual. Debord, Bauman e Birman
fazem uma leitura ampla sobre a pós-modernidade e como se situam os indivíduos
desta época. Freud e Lacan embasam os conceitos psicanalíticos tão necessários em
nosso discurso e leitura sobre o tema.
4
REFERÊNCIAS
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metodologia do Trabalho Científico: elaboração de trabalhos na graduação .
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psicanálise e as novas formas de subjetivação. 4. ed. Rio de Janeiro:
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DA
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