Por Jorge Roberto Fragoso Lins *
As relações humanas vivenciadas na contemporaneidade vêm rompendo com velhos conceitos e construindo outros, com novas normas de conduta que foge totalmente o que antes já se havia estabelecido. A volatilidade das relações sociais é muito mais intensa do que no passado, mostrando laços frágeis de convivência e de amizade que poderão ser rompidos facilmente com um simples delete de um e-mail, um excluir de um número de celular ou por uma alteração dos contatos do Facebook ou de qualquer outra rede social. Hall (2001) ao se posicionar em relação a essa mudança diz que o “sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente”. Isso significaria que a identidade e a subjetividade estão sempre se modificando em função dos novos significantes culturais que surgem diariamente, mas, sobretudo, a cada geração. Compreender melhor esse sujeito é primeiramente lançar alguns questionamentos, como por exemplo, como entender esse indivíduo fruto de uma sociedade de consumo e que, desde cedo, utiliza-se a seu bel-prazer dos avanços tecnológicos; que é privado de um maior convívio com os pais que, por sua parte, confundem, as vezes, propositalmente, amor pelo confortável ato de presentear seus filhos com bens materiais ou, então, de proporcionar algum tipo de lazer, de viagem; que pouco ou nunca lhe foi dado limites; que desconhece o que é frustração e que cresce com a ideia de ser o todo poderoso? Entendemos que tais aspectos representam o supra-sumo da realidade social que vivemos hoje. Resta-nos perguntar: seria esse o ônus, o preço a pagar pelo declínio da autoridade paterna, ou melhor, dizendo, seria esta a resposta da sociedade em não mais admitir o velho regime patriarcal, o descrédito a uma autoridade que perpetrou a punição e a sanguinolência referendadas por autoridades monárquicas e religiosas que ocupavam o lugar de exceção ou figura de exceção e que perdurou por anos a fio na história da humanidade? Deixo aqui, essa reflexão.
Os sujeitos contemporâneos em sua maioria portam características diversas decorrentes de seus sintomas. No entanto, não se pode negar a existência de uma pluralidade sintomática que se coaduna ou, melhor dizendo, uma formalização sobre as parcerias sintomáticas. O discurso capitalista se coloca como um grande semeador de sintomas e, ao contrário do que se poderia pensar de um estabelecimento de vínculos sociais, ele aliena o sujeito ao consumo, exortando o status quo do mesmo em crescente aumento do narcisismo, colocando-se como discurso do mestre, a saber, como significante mestre que é referenciado pela sociedade contemporânea. A titulação desse significante mestre norteia inúmeros outros que irão subjetivar vários comportamentos e sintomas dentre eles o individualismo, a solidão e a coletivização dos sintomas, ou seja, o sentimento e a certeza de que aquilo que estou fazendo está sendo feito por outras pessoas com os mesmos propósitos e sentidos, estabelecendo, assim, um traço de identificação que irá promover uma relação parte/todo que definirá o sujeito como sendo esse todo e não um sujeito que prima pela singularidade. Segundo Lebrun(2007), “essa mudança de regime simbólico transtorna inteiramente nossas referências tradicionais”. O discurso da homogeneização do capitalismo se verifica na própria globalização, que postula levantar uma única bandeira entre os povos, tentando, assim, suprimir a singularidade existe de cada país.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo e pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.
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