Fonte: http://www.psicanalise.online.nom.br/
Jorge Roberto Fragoso Lins *
RESUMO
Este estudo busca
fazer uma breve leitura dos fundamentos básicos da psicanálise, trazendo alguns
referenciais teóricos que norteiam o método psicanalítico criado por Freud, possibilitando,
assim, a uma escuta clínica que se pauta na verdade do sujeito do inconsciente.
Optamos por realizar o referido trabalho com o objetivo de sinalizar a nossa
escolha pessoal de trabalharmos com o método psicanalítico, pelo qual temos
grande apreço.
Palavras
chaves: Fundamentos,
básicos, psicanálise.
ABSTRACT
Este estudio pretende
hacer una breve lectura de los
fundamentos básicos del psicoanálisis, con lo que
algunos marcos teóricos que guían el método psicoanalítico
creado por Freud, lo que permite una clínica escuchar esa
agenda en realidad el sujeto del
inconsciente. Hemos elegido para
efectuar dicho trabajo con el fin de señalar nuestra elección personal para trabajar con el método psicoanalítico, para lo cual tenemos un gran aprecio.
Keywords: Fundamentos básicos, el psicoanálisis.
A
psicanálise é uma teoria que se fundamenta na metapsicologia freudiana que tem
como método de investigação da psique humana a escuta do sujeito do
inconsciente, como procedimento basilar do tratamento e de suas pesquisas. Esta
verdade está, por exemplo, na palavra que escapa, nos atos falhos, nos chistes,
nos sonhos, nas associações livres, no sintoma como formação de compromisso com
o que está recalcado, cujo acesso é da ordem de um inapreensível a que não se
renuncia. Trata-se de preservar um saber, uma linguagem e uma não temporalidade
do sujeito do inconsciente.
No
entendimento de Freud, a descoberta do inconsciente poderia ser comparada a
dois outros golpes que a ciência desferiu sobre o amor-próprio da humanidade. O
primeiro, quando Copérnico destituiu a Terra de ocupar o centro do universo; e o
segundo, quando Darwin mostrou que o homem não está no centro da criação. Mas,
precisamente, qual seria o golpe desferido pela psicanálise? O de
descentralizar o homem de si mesmo ao mostrar que o eu não é senhor nem mesmo
em sua própria casa. Portanto, indo pela contramão do que afirmou Descarte
“penso, logo existo”. Conforme o pai da
psicanálise,
Um
pressuposto fundamental da psicanálise é a diferença, na esfera do psíquico,
entre o que é consciente {Bewusstes} e inconsciente {Unbewusstes}.
Somente a partir dessa distinção, torna-se possível compreender e integrar à
ciência os freqüentes e relevantes processos patológicos da vida psíquica. Dizendo
de outro modo: da perspectiva psicanalítica não há como considerar que a
essência do psiquismo esteja situada na consciência {Bewsstsein}.
Pelo contrário, é preciso considerar a consciência como sendo apenas uma das
qualidades do psíquico e lembrar que diversas outras qualidades podem, ou não,
somar-se a ela. (FREUD, 2007, p. 28).
Freud
concentrou parte de suas pesquisas e de seus tratamentos com pacientes histéricos,
chegando a dizer que a histeria é uma
anomalia do sistema nervoso que se fundamenta na distribuição diferente das
excitações provavelmente acompanhadas de excessos de estímulos no órgão da
mente. Sua sintomatologia mostra que esse excesso é distribuído por meio de
idéias conscientes ou inconscientes.
As
histéricas que foram tratadas por Freud eram, em grande maioria, inteligentes e com grande capacidade de
raciocínio que seria embotado pelos limites que a educação e a sociedade da
época lhes impunham. Elas também possuíam grandes virtudes éticas, pois
suportavam “com grandeza as perturbações mentais que as afligiam” (Birman,
2001, p. 164). Não, obstante, esta mesma virtude ética – moral – fruto de um severo
superego que fazia com que elas ‘suportassem’ a rigidez e o autoritarismo
patriarcal da época, que reprimia e castrava a sexualidade feminina, também as
levavam ao adoecimento por não ser permitida uma vivência sem tabus de suas sexualidades,
levando-as a seguir o caminho do recalcamento de seus desejos e fantasias.
Os
termos superego, recalcamento, repressão, castração fazem parte do extenso dicionário
do método psicanalítico. Mas, antes de conceituá-los, é importante frisar que os mais importantes conceitos inaugurais da psicanálise levam
em conta a noção de inconsciente; a teoria sexual e o princípio do prazer e de
desprazer; a teoria das pulsões e a noção de aparelho psíquico. No que se
refere ao aparelho psíquico, Freud propõe a teoria topográfica que compreende a
idéia de que o aparelho psíquico seria submetido a uma topografia, ou seja, de
possíveis áreas que seriam demarcadas. Ao sugerir tal hipótese, ele não quis
dizer que existem fisicamente áreas que obedecessem a tal descrição, mas sim de
caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas, ou
instâncias psíquicas, com funções específicas para cada uma delas, que estão
interligadas entre si, ocupando sua importância ou lugar na mente.
Ao escrever as duas tópicas, Freud, logicamente,
vai tomar como axial a explicação do conflito
intrapsíquico, especificando o conflito entre desejos sexuais e forças
inibidoras, sendo que, tal conflito, vai desencadear a resistência
característica em todo o processo analítico. Sua teoria mostrou ser uma
descoberta importante. No entanto, enfrentou muitas críticas por parte da
sociedade científica. A primeira tópica foi conhecida como Topográfica e
a “Segunda Tópica”, como Estrutural.
Freud atribuiu a primeira
tópica às noções de inconsciente, pré-consciente e consciente; trabalho
psíquico; conflito intra-psíquico; recalcamento; identificações e
transferência; narcisismo e a metapsicologia da primeira tópica. Na segunda, ateve-se
a noção de id, ego e superego, como também, a evolução da teoria das pulsões,
que incluiu as noções de compulsão à repetição e de pulsão de morte. Portanto, segundo
Freud, o aparelho psíquico é
composto por três sistemas: o inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o
consciente (Cs). A este último, Freud denominava de sistema
percepção-consciência.
O consciente tem a função de receber
informações que são provenientes das excitações do exterior e do interior, que
ficam registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou, desprazer que
elas causam, porém ele não retém esses registros e representações como depósito
ou arquivo deles. Assim, a maior parte das funções perceptivo-cognitivas-motoras
do ego – como as de percepção, pensamento, juízo crítico, evocação,
antecipação, atividade motora, etc., processam-se no sistema consciente, embora
esse funcione intimamente conjugado com o sistema Inconsciente, com o qual
quase sempre está em oposição.
O pré-consciente estaria articulado com o
consciente. Teria a especificidade de “barreira de contato”, funcionando como
uma espécie de peneira que seleciona aquilo que deve, ou não, passar para o
consciente. Ele também funcionaria como um pequeno arquivo de registros,
cabendo-lhe sediar a fundamental função de conter as representações de palavra,
conforme foi conceituado por Freud, 1915.
O inconsciente designa a parte mais arcaica
do aparelho psíquico. Aquela que também poderia ser herdada como herança
genética, onde as pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou
de repressão secundária.
Denominamos, então, pré-consciente
aquilo que é latente, ou seja, o que é inconsciente no sentido descritivo,
portanto, não-dinâmico, e reservamos o termo inconsciente ao recalcado que
dinamicamente está inconsciente. (op. cit., p. 30). Consistiria em que a representação Ics. se
referia a um material que permaneceria desconhecido, enquanto que a
representação Pcs. estaria sendo concectada a determinadas
representações-de-palavra. (ibidem, p. 33). Na segunda tópica, temos as
seguintes conceituações:
O Id é uma estrutura formada pelos representantes mentais dos
impulsos instintuais, a saber, as pulsões, sendo uma poderosa fonte de energia
mental para todo o aparelho psíquico Compõe-no também, os desejos, que exigem
gratificação, o que resulta em impelir o Ego às ações, tendo-se, então aí, as
suas duas características essenciais: ser formado pela energia e pelos
representantes mentais dos impulsos. O id é regido pelo princípio do prazer.
Ego já seria aquele que se relaciona com o meio ambiente, funcionando como mediador, integrador, harmonizador entre as pulsões do Id com suas exigências, e a censura do Superego. O Eu seria, então, aquela instância psíquica que supervisiona todos os processos parciais que ocorrem na pessoa. É a instância que à noite vai dormir, embora, mesmo dormindo, ainda detenha o controle da censura onírica. (FREUD, 2007, p.31).
O superego seria a instância da lei, da ética, da moral. Tal
instância se formaria com a castração realizada no Édipo. Tendo a sua origem na
identificação com as figuras parentais, particularmente com os aspectos éticos
e morais de ambos.
Depois de já ter definido o que era superego
e as respectivas tópicas, iremos, brevemente, conceituar o que seja
recalcamento, repressão e castração. Grosso modo, o recalcamento é uma defesa
das mais primitivas que o ser humano se utiliza para se livrar de algum mal-estar
psíquico. Ou seja, o psiquismo, mais propriamente dito, o ego, se utiliza de um
contra-investimento em relação à idéia que pretende rechaçar, exercendo, assim,
uma força psíquica que vem a expulsar o conteúdo angustiante transferindo-o
para o inconsciente.
Define-se contra-investimento uma defesa que
o psiquismo se utiliza contra um excesso de excitação proveniente do exterior.
Portanto, a volta do recalcado seria o rompimento do escudo protetor que
existiu anteriormente com o recalque.
Diante da defesa realizada frente à situação
traumática, o ego lançaria mão de uma força de repulsão ou repressão que
separaria o afeto da representação, a saber, a representação seria colocada
para fora da consciência do sujeito, permanecendo fora da rede de associações. Freud
denomina a força psíquica que se opõe as representações – traumáticas ou patogênicas
– não permitindo que elas retornem ao consciente de resistência. A resistência,
portanto, seria uma força que teria de ser superada para as representações
patogênicas serem lembradas e pensadas. Mas para que possa existir o recalque,
o ego conta com a ajuda do pré-consciente e pela ação exercida por
representantes inconsciente.
Tomando como referência a obra-prima Édipo
rei, peça que remete a um velho mito que retrata o apaixonamento do filho em
relação à mãe, Freud, constrói a sua teoria psicossexual que consistiria na
descoberta da sexualidade infantil. Em
sua teoria ele aborda as fases do desenvolvimento psicossexual do indivíduo que
abrangeria as fases oral, anal, edípica, latência e genital. Ele descreve uma
relação extremamente amorosa que existiria entre a criança e seu significante
mestre, ou seja, a mãe, e a entrada do pai como regulador dessa relação,
impondo a Lei e castrando a mãe de seu gozo de completude em relação ao filho.
Ao mesmo tempo, colando na criança a falta já que aquela mulher é mulher de seu
pai e jamais poderá ser dele, a saber, da criança, instituindo, assim, a
castração.
Nessa triangulação, mãe, pai e criança, Freud
menciona a relação edípica que ocorre nessa fase colocando o falo como ponto
crucial desta fase. Ele destaca o medo provocado pelo imaginário da criança de
perder o pênis, ao ver a mãe ou alguém do sexo oposto sem o referido membro já
que, nesta fase, a criança imagina que todos, homens e mulheres possuem o
pênis. Foi aí que Freud descobriu que existe por parte da criança a crença da
universalidade do pênis. Lacan ao fazer a releitura da obra de Freud elabora em
sua teoria as concepções de Metáfora do Pai e o Nome-do-Pai. Assim, estabelecendo
a figura paterna como um significante que deve estar presente antes mesmo do
complexo de Édipo e de Castração, a saber, no primeiro recalque que a criança
sofre. Conforme Mourão (2011),
enquanto significante, o falo instaura
a Lei do pai, a lei da castração, circunscrevendo o campo simbólico. Por fim,
pode-se dizer que o processo da Metáfora Paterna corresponde à noção de
recalque originário em Freud, recalque do significante fálico, o que institui o
inconsciente – portanto, sendo fundamental para a instituição e estruturação da
subjetividade. (MOURÃO, 2011, p. 97).
Mourão ainda salienta a importância da
implicação dessa metáfora para a vida subjetiva do sujeito,
nessa estrutura, a Metáfora Paterna é
fundamental especialmente por dois aspectos:
- porque permite à criança sair da
condição de objeto de desejo da mãe (ser o falo) e passar à condição de sujeito
desejante (ter o falo);
- porque ao abrir a possibilidade de
metaforizar, permitindo as identificações, condiciona a possibilidade de
entrada do sujeito no simbólico, na cultura.
Em outras palavras, a Metáfora
Paterna, ao introduzir o significante do Nome-do-Pai na economia subjetiva, permite
ao sujeito “servi-se” desse nome, quer dizer, servir-se das palavras, do
sistema de comunicação, do sistema simbólico – o que não acontece, por exemplo,
na psicose, em que existe uma rejeição (foraclusão) do Nome-do-Pai. (ibidem, p.
98).
Portanto, o Nome-do-Pai, trata-se do pai como
simbólico, como significante que tem como função o “não”, da interdição,
constituindo, assim, como aquele que, enquanto sede da Lei, representa o Outro
da mãe, sendo o significante da Lei para a mãe. É exatamente por isso que a
simbolização do Nome-do-Pai funda a dimensão do significante para o sujeito. Com
isso se determina a lógica da castração, determinando as diferentes estruturas
subjetivas e ordenando as posições sexuais: masculina e histérica.
Em nossa breve leitura sobre os fundamentos
básicos da psicanálise não poderíamos deixar de mencionar a teoria dos sonhos,
um dos trabalhos mais complexos de Freud. “A interpretação dos Sonhos” é datada
oficialmente do ano de 1899. No entanto foi concluída em todos os seus aspectos
essenciais, no começo de 1896, porém só foi escrita no verão de 1899.
Ao tratar de seus pacientes, sobretudo das
histéricas, Freud percebeu que os sonhos que eles tinham revelavam um
importante acesso ao inconsciente, trazendo conteúdos de desejos que poderiam ser dos mais
simples ou infantis, como conteúdos recalcados, fruto de desejos incestuosos,
de fantasias ou de traumas. Conforme o pai da psicanálise (2006),
o que origina um sonho é um desejo, e
a satisfação deste desejo constitui o conteúdo do sonho – esta é umas das
características principais dos sonhos. A outra, igualmente constante, é que um
sonho não apenas confere expressão a um pensamento, mas também representa o
desejo sendo satisfeito sob a forma de uma experiência alucinatória. ‘Gostaria
de ir ao lago’ é o desejo que origina o sonho. O conteúdo do sonho propriamente
dito é: ‘Estou indo ao lago”. Portanto, mesmo nesses simples sonhos de criança,
há uma diferença entre o sonho latente e sonho manifesto, há uma distorção do
pensamento onírico latente: a transformação de um pensamento em uma vivência.
(FREUD, 2006, p. 132).
Freud relata que ao pedir que alguém dissesse
o que lhe veio à mente em resposta a um determinado elemento do sonho, estava
lhe pedindo que se entregasse à associação livre, enquanto mantém na mente uma
idéia como ponto de partida. No entanto, ele faz uma ressalva: que aquele que
sonhou, quando interrogado sobre os diversos elementos do sonho separados uns
dos outros, pode responder que nada lhe ocorre. Entretanto, em geral, se quem
sonhou diz que seu sonho não tem nenhum sentido, significando, que nada lhe
ocorre, a coisa que tem de se fazer é contestar e pressionar, insistindo em que
algo deve lhe ocorrer. Se uma pessoa pensa que não sabe nada sobre experiências
cuja lembrança, ainda assim, está dentro dela, já não é mais tão improvável ela
não saber nada de outros processos mentais dentro de si. (ibidem, p. 108). Freud
assegura ainda que,
produzirá uma idéia – qualquer idéia,
é-nos indiferente qual seja. O sonhador nos dará determinadas informações, que
podem ser descritas como ‘histórias’ com especial facilidade. Ele pode dizer:
‘Isso é algo que aconteceu ontem’ ou Isso me lembra algo que aconteceu há pouco
tempo’ – e dessa maneira descobriremos que os sonhos se referem a impressões do
dia anterior, ou dos dois últimos dias, muito mais frequentemente do que de
início imaginávamos. E, finalmente, também recordará, a partir do sonho,
acontecimentos de épocas ainda anteriores, e até mesmo, talvez, de um passado
muito remoto. (ibidem, p. 110).
O
fisiólogo Burdach (1776 - 1847) faz a seguinte observação em relação aos
sonhos: “Nos sonhos, a vida cotidiana, com suas dores e seus prazeres, suas
alegrias e mágoas, jamais se repete. Pelo contrário, os sonhos têm como objetivo
verdadeiro libertar-nos dela.
Não há dúvidas que todo conteúdo de um sonho
é derivado, de um jeito ou de outro, de alguma experiência que foi reproduzida
ou lembrada no sonho. No entanto, é pertinente ressaltar que poderão existir nos
sonhos algumas deformações provocadas por uma censura. Esta censura se refere a
um conflito psíquico provocado pelo recalque. Isto, porque, os desejos que
provocam os sonhos muitas vezes não são desejos aceitáveis pela consciência,
existindo por parte dela uma forte rejeição. Porém, não se descarta a
possibilidade de acontecer algo dúbio neste caso, a saber, o retorno do desejo
recalcado poderá causar desprazer, como já mencionamos, mas também poderá
provocar prazer, o prazer do gozo fálico.
A satisfação desse prazer para o neurótico
poderá acarretar em estado de vigília uma imensa angústia. O aparecimento do
desejo, ou, melhor dizendo, do sonho que revela conteúdos latentes e inconscientes
só serão possíveis pela diminuição do rigor da censura que acontece no momento onírico
que se vive, possibilitando, assim, o aparecimento de sentimentos,
representações e imagens desagradáveis, que são justificados pelo fracasso do recalque.
A tese de Freud é a de que o sonho é uma realização disfarçada de um desejo
recalcado e esse desejo é sempre originário, ou parte sempre do inconsciente. Concebe-se,
portanto, elaboração onírica, o trabalho de transformar os pensamentos latentes
em conteúdos manifestos, distorcendo esses pensamentos de tal forma que o
sonho, ou os pensamentos nele apresentados, vai ser inacessível ao sonhador. O processo
inverso, a saber, partindo do manifesto para chegar ou latente, Freud chamou de interpretação.
Os sonhos também podem ter estímulos sensórias
externos, a saber, um estímulo que seja consideravelmente poderoso
poderá nos despertar a qualquer momento, como também poderá tornar-se fonte de
nossos sonhos, pois ocorre pelo fato da
alma está em constante contato com o mundo extracorporal. Por exemplo, se estivermos dormindo e trovejar,
poderá existir uma elaboração onírica referente ao fato de uma guerra com
bombas explodindo e pessoas morrendo. O rangido de uma porta poderá ser elaborado
como se alguém estivesse entrando sorrateiramente em casa, como por exemplo, um
ladrão. Mas também não podemos nos esquecer das excitações sensoriais internas,
como por exemplo, a pessoa pode estar com cede e sonhar bebendo água, etc.
Em quase todo trabalho onírico, sobretudo, o que
diz respeito ao conteúdo latente que se torna manifesto, existem dois processos
que estão bem atuantes. O primeiro, o de condensação, que é referente a idéias,
temas, imagens e figuras que são agrupas em uma só. O segundo, o de
deslocamento, que consiste quando uma representação tem algo em
comum com a representação anterior. Conforme Kaufmann (1996),
o deslocamento e a condensação têm parentesco,
respectivamente, com a metonímia e a metáfora, mas distinguem-se delas como
mecanismos do processo primário inconsciente. Em interpretação dos sonhos,
Freud lembra que “o trabalho do sonho não pensa nem calcula”. De fato, na
condensação – de que Freud fala pela primeira vez no capítulo VII de A
interpretação dos sonhos, consagrado ao trabalho do sonho – uma única
representação pode traduzir diversas cadeias de pensamentos latentes que lhe
estão associadas. Isso implica, na origem, um processo econômico, na medida em
que as energias em ação nessas cadeias podem se superpor a essa representação
manifesta. (KAUFMANN, 1996, p. 92).
O mesmo autor complementa que,
A definição do processo de deslocamento sob a forma
mais precisa em “A interpretação dos sonhos”, como um dos elementos do capítulo
V, dedicado à “deformação” no sonho. “Os pensamentos de meu sonho”, explica
Freud, “eram injuriosos para R.; para que eu não os notasse, são substituídos
pelo oposto, a ternura”. A ‘carga psíquica’ das representações que estavam no
início fortemente investidas para outras cuja tensão é fraca’. “Cada vez que um
elemento psíquico é ligado a outro por uma associação incômoda ou superficial,
estabelece-se entre os dois um vínculo natural e profundo submetido à
resistência da censura. Na figuração, as associações superficiais substituem as
profundas quando a censura torna essas vias normais impraticáveis. (KAUFMANN,
1996, p. 125-126).
A teoria psicanalítica reserva um extenso rol de
conteúdos analíticos que possibilitam a prática clínica em sua escuta e nas
observações sociais que impliquem uma análise mais aprofundada do sujeito
inserido nesse lugar, mas a frisar que este sujeito para a psicanálise sempre
será o sujeito do inconsciente.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo e
pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período
de psicologia.
REFERÊNCIAS
FREUD, S. Escritos
sobre a psicologia do inconsciente, v. III. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Imago,
2007.
_________.
Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio
de Janeiro, RJ. Ed. Imago, 2006.
BIRMAN, J. Mal-estar na atualidade: A
psicanálise e as novas formas de subjetivação (3. ed.). Rio de Janeiro,
RJ. Ed. Civilização Brasileira, 2001.
KAUFMANN, P.
Dicionário enciclopédico de psicanálise: o legado de Freud e Lacan. Rio de
Janeiro, RJ. Ed. Zahar, 1996.
MOURÃO, A. Uma
aventura no território da falta. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Cia de Freud, 2011.