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Por Jorge Roberto Fragoso Lins
Desastres ou catástrofes
naturais existem no mundo muito antes de o Homem habitar a Terra. Teoria como a
da “Deriva Continental” prega a ideia de que os continentes no passado
estiveram unidos em um único bloco, e devido à movimentação das placas tectônicas,
todo esse grande eixo foi separado, mostrando que as estruturas da Terra não
são fixas e é justamente por essa acomodação das placas tanto nas regiões
oceânicas, como nos continentes, que se produzem os mais devastadores desastres
naturais como tsunamis e terremotos, onde milhares de pessoas perdem suas vidas
e cidades inteiras são destruídas.
A destruição de casas e as vidas que sucumbem com morte são leituras
visuais e observáveis por todos que tomam conhecimento das catástrofes, mas o
que não é identificado pelos olhos da maioria é o que constitui a outra ponta
do iceberg, ou seja, as sequelas psicológicas que dentre elas está o sentimento
de luto.
O luto nessas ocasiões toma enormes proporções e não apenas no sentido
mais usual da palavra, exprimindo o sentimento de perda e de tristeza pela
morte de um ente querido ou amigo, mas o estado de luto que poderá ser
produzido por uma gama de objetos perdidos e quiçá nunca mais recuperados.
A arranhadura psíquica sofrida por esse povo ou por esses
sujeitos possui tamanha profundidade que nem todos conseguirão estancar o
sangue de seus sofrimentos e cicatrizar o corte deixado em suas almas, mas
diante desse grande desafio a construção de trabalhos que venham acolher da
melhor forma esse sujeito só vêm a somar ao tratamento do mesmo que, de
antemão, todas as forças convergem para que esse sujeito também sucumba depois
do desastre.
Os desastres naturais vêm sendo amplamente estudados pelas
subáreas da psicologia ambiental e da psicologia das emergências e desastres. A
primeira, busca enfatizar teoricamente a
influência do ambiente nas pessoas, como também a influência das pessoas no
ambiente. O estudo se basea na relação homem x ambiente e na sua reciprocidade;
já a psicologia das emergências e desastres tem uma esfera maior em sua atuação,
estudando os impactos psicológicos nos indivíduos e grupos, como também no
trabalho de prevenção e no auxilio às vítimas diretas e indiretas, de modo a refazer
suas vidas no pós-desastre.
Os inesperados e avassaladores
fenômenos naturais podem romper abruptamente laços afetivos que demandaram anos
de investimento, destruindo sonhos e provocando traumas que poderão perdurar
para o resto da vida. O choque vivido por essas pessoas as deixa em um estado
de desorientação somado a um vazio existencial em decorrência da perda do
objeto amado que, dependendo da estrutura da personalidade desse sujeito poderá
desencadear até mesmo em uma psicose, isto porque o
intenso grau de tensão psíquica decorrente do evento que provocou o choque fez
com que o psiquismo acionasse suas defesas diante do forte sofrimento vivido. Nesses
casos poderão ocorrer quadros de dissociação da consciência como também de
negação. Poderão ainda advir os transtorno de estresse pós-traumático,
transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, transtornos comportamentais
e outros.
A perda desses objetos repletos de representações –
significantes – afetivas também implica na perda do referencial do outro que sobreviveu
ao desastre e com isso, poderá ocorrer o empobrecimento do investimento do Ego em
relação à própria vida. É importante lembrar que construímos o mundo ao nosso
redor pela via dos investimentos que fazemos em relação ao meio que vivemos. O
empobrecimento ou mesmo a perda de vontade de reinvestir em seu meio social
poderá acarretar na perda do referencial que se tinha como sujeito coletivo, ou
seja, social. Isso significa que o sentimento de apego que dá sentido a vida
através dos laços sociais está extremamente comprometido. É de sobremaneira
importante a operacionalidade do apego internalizado nesse momento, pois ajuda
o sujeito a manter uma visão consistente de si mesmo e dos outros, portanto, da
vida. Defusing e Debriefing são métodos de intervenção psicológico e psiquiátrico
que poderão ser acionados logo após a um evento traumático, tendo como finalidade
proteger, apoiar e minimizar o desenvolvimento de síndromes anormais de
resposta ao estresse.
Diante de todo o quadro apresentado e da difícil e
sofrível reconstrução desses sujeitos, denota claramente que o evento destruidor
não acaba ao cessar do fenômeno, mas persiste no coletivo daquele povo e,
sobretudo, nas pessoas que vivenciaram de perto toda a tragédia.
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Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo,
pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período
de psicologia.
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