terça-feira, 23 de julho de 2013

O SOFRIMENTO PSÍQUICO PÓS-DESASTRES NATURAIS: UMA LEITURA DAS CONSEQUÊNCIAS PSÍQUICAS

Foto/ fonte: http://www.teleios.com.br/tag/desastres-naturais/

* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Desastres ou catástrofes naturais existem no mundo muito antes de o Homem habitar a Terra. Teoria como a da “Deriva Continental” prega a ideia de que os continentes no passado estiveram unidos em um único bloco, e devido à movimentação das placas tectônicas, todo esse grande eixo foi separado, mostrando que as estruturas da Terra não são fixas e é justamente por essa acomodação das placas tanto nas regiões oceânicas, como nos continentes, que se produzem os mais devastadores desastres naturais como tsunamis e terremotos, onde milhares de pessoas perdem suas vidas e cidades inteiras são destruídas.

A destruição de casas e as vidas que sucumbem com morte são leituras visuais e observáveis por todos que tomam conhecimento das catástrofes, mas o que não é identificado pelos olhos da maioria é o que constitui a outra ponta do iceberg, ou seja, as sequelas psicológicas que dentre elas está o sentimento de luto.

O luto nessas ocasiões toma enormes proporções e não apenas no sentido mais usual da palavra, exprimindo o sentimento de perda e de tristeza pela morte de um ente querido ou amigo, mas o estado de luto que poderá ser produzido por uma gama de objetos perdidos e quiçá nunca mais recuperados.

A arranhadura psíquica sofrida por esse povo ou por esses sujeitos possui tamanha profundidade que nem todos conseguirão estancar o sangue de seus sofrimentos e cicatrizar o corte deixado em suas almas, mas diante desse grande desafio a construção de trabalhos que venham acolher da melhor forma esse sujeito só vêm a somar ao tratamento do mesmo que, de antemão, todas as forças convergem para que esse sujeito também sucumba depois do desastre.

Os desastres naturais vêm sendo amplamente estudados pelas subáreas da psicologia ambiental e da psicologia das emergências e desastres. A primeira,  busca enfatizar teoricamente a influência do ambiente nas pessoas, como também a influência das pessoas no ambiente. O estudo se basea na relação homem x ambiente e na sua reciprocidade; já a psicologia das emergências e desastres tem uma esfera maior em sua atuação, estudando os impactos psicológicos nos indivíduos e grupos, como também no trabalho de prevenção e no auxilio às vítimas diretas e indiretas, de modo a refazer suas vidas no pós-desastre.  

Os inesperados e avassaladores fenômenos naturais podem romper abruptamente laços afetivos que demandaram anos de investimento, destruindo sonhos e provocando traumas que poderão perdurar para o resto da vida. O choque vivido por essas pessoas as deixa em um estado de desorientação somado a um vazio existencial em decorrência da perda do objeto amado que, dependendo da estrutura da personalidade desse sujeito poderá desencadear até mesmo em uma psicose, isto porque o intenso grau de tensão psíquica decorrente do evento que provocou o choque fez com que o psiquismo acionasse suas defesas diante do forte sofrimento vivido. Nesses casos poderão ocorrer quadros de dissociação da consciência como também de negação. Poderão ainda advir os transtorno de estresse pós-traumático, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, transtornos comportamentais e outros.

A perda desses objetos repletos de representações – significantes – afetivas também implica na perda do referencial do outro que sobreviveu ao desastre e com isso, poderá ocorrer o empobrecimento do investimento do Ego em relação à própria vida. É importante lembrar que construímos o mundo ao nosso redor pela via dos investimentos que fazemos em relação ao meio que vivemos. O empobrecimento ou mesmo a perda de vontade de reinvestir em seu meio social poderá acarretar na perda do referencial que se tinha como sujeito coletivo, ou seja, social. Isso significa que o sentimento de apego que dá sentido a vida através dos laços sociais está extremamente comprometido. É de sobremaneira importante a operacionalidade do apego internalizado nesse momento, pois ajuda o sujeito a manter uma visão consistente de si mesmo e dos outros, portanto, da vida. Defusing e Debriefing são métodos de intervenção psicológico e psiquiátrico que poderão ser acionados logo após a um evento traumático, tendo como finalidade proteger, apoiar e minimizar o desenvolvimento de síndromes anormais de resposta ao estresse.

Diante de todo o quadro apresentado e da difícil e sofrível reconstrução desses sujeitos, denota claramente que o evento destruidor não acaba ao cessar do fenômeno, mas persiste no coletivo daquele povo e, sobretudo, nas pessoas que vivenciaram de perto toda a tragédia.  

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.




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