quarta-feira, 17 de julho de 2013

UMA SÍNTESE DA PSICOLOGIA EVOLUTIVA


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

O presente artigo não tem como objetivo privilegiar qualquer tipo de abordagem teórica a respeito do desenvolvimento humano, nem, tampouco, estender-se a todas elas, mas, apenas, mostrar que, em termo de Ciência, jamais poderemos eleger como verdade absoluta uma teoria, mesmo que seja revestida de um corpo extremamente coerente em seus fundamentos, sobrepondo a quais quer retificações ou, mesmo, considerando a hipótese de seu abandono por outra teoria que possua um lastro maior de respostas que se apliquem, melhor, ao momento vivido pelo ser humano.  Nesta busca pela verdade científica e pelas muitas perguntas ainda sem respostas, citaremos dois pronunciamentos de um dos mais renomados e importantes cientistas dos últimos tempos, Albert Einstein.


“A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É esta a emoção fundamental que está na raiz de toda ciência e arte. O homem que desconhece esse encanto, incapaz de sentir admiração e estupefação, esse já está, por assim dizer, morto e tem os olhos extintos”.

“Nós, cientistas, acreditamos que o que nós e nossos semelhantes fizermos ou deixarmos de fazer nos próximos anos determinará o destino de nossa civilização. E consideramos nossa tarefa explicar incansavelmente essa verdade, ajudar as pessoas a perceber tudo o que está em jogo, e trabalhar, não para contemporizar, mas para aumentar o entendimento e conseguir, finalmente, a harmonia entre os povos e nações de diferentes pontos de vista”.


O Desenvolvimento Humano é constituído por um universo complexo de acontecimentos e fenômenos que estão sempre evoluindo e, por conseqüência jamais terá, por parte de seus pesquisadores, uma resposta conclusiva para muitas das perguntas referentes ao seu encadeamento evolutivo. Categoricamente, sabemos que nada acontece do nada e tudo, na vida, é reflexo de um processo de maturação, desenvolvimento e juntamente com o de evolução, o de transformação, isto, em todos os aspectos e perspectivas da vida.  O Homem, como também toda a espécie vivente que possui um organismo complexo ou chegando a isso, são partícipes de um processo que enfoca um encadeamento evolutivo, constituído por ciclos que determinariam a evolução de cada espécie, assim atestava Chales Darwin. Entretanto, o surgimento de estruturas complexas só ocorreriam, passo a passo, em processos lentos.  

É importante frisar que a Evolução antes de tudo é um conjunto de acontecimentos  que obedece a uma ordenação estrutural e que irá demandar os ciclos evolutivos de cada espécie, dando-se de forma lenta e gradual, mas que, para isso, necessita de muitas ferramentas, e sobremaneira, quando nos referimos ao desenvolvimento do Homem. A Psicologia Evolutiva, sendo uma das vertentes científicas que estuda esse desenvolvimento vem contribuindo, significativamente, para o desbravamento desse saber, que representa o Desenvolvimento do Homem, incumbida de estudar as mudanças relacionadas aos processos de desenvolvimento das pessoas, a seus processos e crescimento e a suas experiências vitais significativas, dentro de um universo de fatores preponderantes na vida da pessoa, como:


1) a etapa da vida em que ela se encontra;
2) as circunstâncias culturais, históricas e sociais que se apresentam na vida da pessoa e
3) as experiências vividas por cada um. No primeiro enfoque, verifica-se que episódios que sejam inerentes a uma determinada época na vida de uma pessoa, como por exemplo, a adolescência, ou mesmo a velhice, poderão ter agrupamentos de acontecimentos que possua certa homogeneidade entre esses dois grupos, logicamente, não descartando a importância dos demais aspectos que são representativos e significativos para cada indivíduo.


No que se refere aos aspectos culturais, históricos e sociais, representam incrementos que irão construir uma homogeneidade entre aqueles que vivem e participam desse mesmo universo, e tais referências serão novamente absorvidas pelos descendentes, mesmo que, novas referências venham a surgir no transcurso do tempo e também sejam agregadas por aquele grupo ou por parte dele. E no último ponto, encontramos os fatores idiossincráticos, que significa que mesmo uma pessoa recebendo todas as influências de seu meio e vivenciando épocas semelhantes com outros sujeitos, suas experiências e seu desenvolvimento psicológico farão dele um sujeito ímpar, ou seja, um sujeito individualizado com personalidade própria e tendo o seu desenvolvimento, também, peculiar aos seus experimentos.

A Psicologia Evolutiva ao estudar todas as etapas do desenvolvimento humano, da infância à velhice, introduz para a sociedade o conhecimento que em cada ciclo, entre perdas e ganhos, existe um desenvolvimento que só se encera com a morte. Portanto, todos nós estamos absorvendo algo em alguma etapa de nossas vidas e que nos será útil, contribuindo, assim, para o nosso bem-estar.   

Segundo um dos pais do empirismo, J. Locke (1632-1704), “a mente humana pode ser comparada, no momento do nascimento, a um quadro em branco, a uma tábua rasa, e a experiência adquirida por ela seria fruto do contato com o meio e da estimulação que recebe, isto determinaria a todo o momento os conteúdos do psiquismo. Pela teoria de J. Locke, não há nada na inteligência que não tenha passado antes pelos sentidos. Mas, em contrapartida, segundo Jean Piaget, ao nascer, os recém-nascidos  possuem padrões motores não aprendidos para comportamentos como mamar, agarrar e mover suas extremidades. Mas não sabem de que modo seus comportamentos se relacionam com o mundo exterior.

Hipoteticamente, poderíamos questionar que tais padrões motores resultariam de algo inato, algo que esteja relacionado ao instinto de sobrevivência? Caso enveredemos por tal caminho seria dizer que a criança recém-nascida não é um quadro totalmente em branco, algum conteúdo inato existe nela e que obedeceria, talvez, a herança de espécies inferiores ao Homem, mas, caso seja isso, consagraríamos a teoria da lei de evolução de Darwin como verdade absoluta, tendo também como averbação de tal teoria o fato de que todo feto, no começo de seu desenvolvimento, possui uma calda, que com o passar do tempo desaparece.
O filósofo Rousseau (iluminista) asseverava que determinadas características seriam inatas ao ser humano, como por exemplo, a bondade natural da criança, e destaca uma divisão da infância em estágios, cada um dos quais apresentando suas características próprias, exigindo um tratamento educacional diferenciado; já, Kant, também iluminista, referia-se a existência de categorias inatas de pensamento.

Esses pensamentos fazem partes dos modelos organicistas. Agora, observaremos os modelos mecanicistas, que colocam a história psicológica de uma pessoa ligada a aquilo que ela aprende e o mesmo ocorrendo em espécies inferiores, portanto, limita-se a trabalhar com aquilo que pode ser definido em termos operacionais e que é possível de ser medido e quantificado, abolindo por completo qualquer pensamento ligado ao modelo organicista. Gostaria de lembrar o caráter teleonômico do desenvolvimento, expressão dada pelo modelo organicista, com a qual se faz referência à ideia de que o processo evolutivo é um caminho orientado a se atingir uma determinada meta, considera algo semelhante ao ápice do desenvolvimento. O que também implica em dizer que os fatores que ocorrem na infância serão importantíssimos no transcurso da vida do sujeito até a sua velhice, algo bastante sensato e real. Autores ilustres como Freud e Piaget são grandes defensores deste pondo de vista.

Existem, ainda, teorias que defendem que o desenvolvimento psicológico não ocorreria de qualquer maneira, que não seria um processo independente que cada indivíduo vivenciasse de maneira completamente diferente do outro, existindo, sim, um processo de desenvolvimento de nossa espécie, mas que estaria completamente desligado a qualquer teoria que se parecesse com a de Darwin.  As teorias foram se dando até que chegasse ao pensamento contemporâneo do ciclo vital, onde múltiplos aspectos são tomados como fundamentais e significativos para o desenvolvimento de uma pessoa. Fatores como ambientais, culturais, históricos, biológicos, sociais e psicológicos são extremamente importantes para a harmonia desse universo chamado: Desenvolvimento Humano.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia.



    






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