* Por Jorge Roberto Fragoso Lins
O presente artigo não tem
como objetivo privilegiar qualquer tipo de abordagem teórica a respeito do
desenvolvimento humano, nem, tampouco, estender-se a todas elas, mas, apenas, mostrar
que, em termo de Ciência, jamais poderemos eleger como verdade absoluta uma
teoria, mesmo que seja revestida de um corpo extremamente coerente em seus
fundamentos, sobrepondo a quais quer retificações ou, mesmo, considerando a
hipótese de seu abandono por outra teoria que possua um lastro maior de
respostas que se apliquem, melhor, ao momento vivido pelo ser humano. Nesta busca pela verdade científica e pelas
muitas perguntas ainda sem respostas, citaremos dois pronunciamentos de um dos
mais renomados e importantes cientistas dos últimos tempos, Albert Einstein.
“A coisa mais bela que o homem pode
experimentar é o mistério. É esta a emoção fundamental que está na raiz de toda
ciência e arte. O homem que desconhece esse encanto, incapaz de sentir
admiração e estupefação, esse já está, por assim dizer, morto e tem os olhos
extintos”.
“Nós, cientistas,
acreditamos que o que nós e nossos semelhantes fizermos ou deixarmos de fazer
nos próximos anos determinará o destino de nossa
civilização. E consideramos nossa tarefa explicar incansavelmente essa verdade,
ajudar as pessoas a perceber tudo o que está em jogo, e trabalhar, não para
contemporizar, mas para aumentar o entendimento e conseguir, finalmente, a
harmonia entre os povos e nações de diferentes pontos de vista”.
O Desenvolvimento Humano é
constituído por um universo complexo de acontecimentos e fenômenos que estão
sempre evoluindo e, por conseqüência jamais terá, por parte de seus
pesquisadores, uma resposta conclusiva para muitas das perguntas referentes ao
seu encadeamento evolutivo. Categoricamente, sabemos que nada acontece do nada
e tudo, na vida, é reflexo de um processo de maturação, desenvolvimento e
juntamente com o de evolução, o de transformação, isto, em todos os aspectos e
perspectivas da vida. O Homem, como também
toda a espécie vivente que possui um organismo complexo ou chegando a isso, são
partícipes de um processo que enfoca um encadeamento evolutivo, constituído por
ciclos que determinariam a evolução de cada espécie, assim atestava Chales
Darwin. Entretanto, o surgimento de estruturas complexas só ocorreriam, passo a
passo, em processos lentos.
É importante frisar que a Evolução
antes de tudo é um conjunto de acontecimentos que obedece a uma ordenação estrutural e que
irá demandar os ciclos evolutivos de cada espécie, dando-se de forma lenta e
gradual, mas que, para isso, necessita de muitas ferramentas, e sobremaneira,
quando nos referimos ao desenvolvimento do Homem. A Psicologia Evolutiva, sendo
uma das vertentes científicas que estuda esse desenvolvimento vem contribuindo,
significativamente, para o desbravamento desse saber, que representa o
Desenvolvimento do Homem, incumbida de estudar as mudanças relacionadas aos
processos de desenvolvimento das pessoas, a seus processos e crescimento e a
suas experiências vitais significativas, dentro de um universo de fatores
preponderantes na vida da pessoa, como:
1) a etapa da vida em que ela se
encontra;
2) as circunstâncias culturais,
históricas e sociais que se apresentam na vida da pessoa e
3) as experiências vividas por cada
um. No primeiro enfoque, verifica-se que episódios que sejam inerentes a uma
determinada época na vida de uma pessoa, como por exemplo, a adolescência, ou
mesmo a velhice, poderão ter agrupamentos de acontecimentos que possua certa
homogeneidade entre esses dois grupos, logicamente, não descartando a
importância dos demais aspectos que são representativos e significativos para
cada indivíduo.
No que se refere aos
aspectos culturais, históricos e sociais, representam incrementos que irão
construir uma homogeneidade entre aqueles que vivem e participam desse mesmo
universo, e tais referências serão novamente absorvidas pelos descendentes, mesmo
que, novas referências venham a surgir no transcurso do tempo e também sejam
agregadas por aquele grupo ou por parte dele. E no último ponto, encontramos os
fatores idiossincráticos, que significa que mesmo uma pessoa recebendo todas as
influências de seu meio e vivenciando épocas semelhantes com outros sujeitos, suas
experiências e seu desenvolvimento psicológico farão dele um sujeito ímpar, ou
seja, um sujeito individualizado com personalidade própria e tendo o seu
desenvolvimento, também, peculiar aos seus experimentos.
A Psicologia Evolutiva ao
estudar todas as etapas do desenvolvimento humano, da infância à velhice, introduz
para a sociedade o conhecimento que em cada ciclo, entre perdas e ganhos, existe
um desenvolvimento que só se encera com a morte. Portanto, todos nós estamos absorvendo
algo em alguma etapa de nossas vidas e que nos será útil, contribuindo, assim, para
o nosso bem-estar.
Segundo um dos pais do
empirismo, J. Locke (1632-1704), “a mente humana pode ser comparada, no momento
do nascimento, a um quadro em branco, a uma tábua rasa, e a experiência
adquirida por ela seria fruto do contato com o meio e da estimulação que
recebe, isto determinaria a todo o momento os conteúdos do psiquismo. Pela
teoria de J. Locke, não há nada na inteligência que não tenha passado antes
pelos sentidos. Mas, em contrapartida, segundo Jean Piaget, ao nascer, os
recém-nascidos possuem padrões motores
não aprendidos para comportamentos como mamar, agarrar e mover suas
extremidades. Mas não sabem de que modo seus comportamentos se relacionam com o
mundo exterior.
Hipoteticamente, poderíamos questionar
que tais padrões motores resultariam de algo inato, algo que esteja relacionado
ao instinto de sobrevivência? Caso enveredemos por tal caminho seria dizer que
a criança recém-nascida não é um quadro totalmente em branco, algum conteúdo
inato existe nela e que obedeceria, talvez, a herança de espécies inferiores ao
Homem, mas, caso seja isso, consagraríamos a teoria da lei de evolução de
Darwin como verdade absoluta, tendo também como averbação de tal teoria o fato de
que todo feto, no começo de seu desenvolvimento, possui uma calda, que com o
passar do tempo desaparece.
O filósofo Rousseau (iluminista) asseverava
que determinadas características seriam inatas ao ser humano, como por exemplo,
a bondade natural da criança, e destaca uma divisão da infância em estágios,
cada um dos quais apresentando suas características próprias, exigindo um
tratamento educacional diferenciado; já, Kant, também iluminista, referia-se a
existência de categorias inatas de pensamento.
Esses pensamentos fazem
partes dos modelos organicistas. Agora, observaremos os modelos mecanicistas, que
colocam a história psicológica de uma pessoa ligada a aquilo que ela aprende e
o mesmo ocorrendo em espécies inferiores, portanto, limita-se a trabalhar com
aquilo que pode ser definido em termos operacionais e que é possível de ser
medido e quantificado, abolindo por completo qualquer pensamento ligado ao modelo
organicista. Gostaria de lembrar o caráter teleonômico do desenvolvimento,
expressão dada pelo modelo organicista, com a qual se faz referência à ideia de
que o processo evolutivo é um caminho orientado a se atingir uma determinada
meta, considera algo semelhante ao ápice do desenvolvimento. O que também
implica em dizer que os fatores que ocorrem na infância serão importantíssimos
no transcurso da vida do sujeito até a sua velhice, algo bastante sensato e
real. Autores ilustres como Freud e Piaget são grandes defensores deste pondo
de vista.
Existem, ainda, teorias que
defendem que o desenvolvimento psicológico não ocorreria de qualquer maneira,
que não seria um processo independente que cada indivíduo vivenciasse de
maneira completamente diferente do outro, existindo, sim, um processo de
desenvolvimento de nossa espécie, mas que estaria completamente desligado a
qualquer teoria que se parecesse com a de Darwin. As teorias foram se dando até que chegasse ao
pensamento contemporâneo do ciclo vital, onde múltiplos aspectos são tomados
como fundamentais e significativos para o desenvolvimento de uma pessoa.
Fatores como ambientais, culturais, históricos, biológicos, sociais e
psicológicos são extremamente importantes para a harmonia desse universo
chamado: Desenvolvimento Humano.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo,
pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período
de psicologia.
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