Fonte: http://forcajovemmaranguape.wordpress.com/author/forajovemmaranguape/page/2/
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Por Jorge Roberto Fragoso Lins
Roda de Conversa foi uma dinâmica realizada com seis mães e uma tia de crianças que
são atendidas pelo Centro de Reabilitação e
Valorização da Criança (CERVAC). A instituição é especializada no tratamento com
crianças com paralisia cerebral, autismo e síndrome de down. Os objetivos que
nortearam o nosso trabalho foram o psicológico, o familiar e o social. Neste
artigo, traremos algumas vivências dessas mães. Lançamos a primeira pergunta: Qual
foi a sua primeira reação ao saber do diagnóstico dado pelo médico em relação
aos seus filhos?A resposta foi unânime entre as mães: de um grande abalo
psicológico e emocional sofrido pelo casal. A cada relato presenciava-se a dor
e a angústia dessas mães. Parecia que estavam revivendo outra vez todo o
episódio. Logo após, algumas suscitaram o seguinte questionamento: “Será que meu
filho nasceu assim por minha culpa ou por culpa do pai?”
A maioria das mães mencionou situações complicatórias
ocorridas durante a gestação e no momento do parto. Uma mãe que vamos dar o
nome fictício de Maria nos relata que teve rubéola, logo no início de sua
gravidez, e que procurou o médico que fazia seu pré-natal com o intuito de
abortar a criança, já que a mesma corria o risco de nascer com alguma sequela. M.
declinou um amplo histórico familiar da doença. No entanto, o médico não considerou
o que M. disse e nem ao menos se deu o trabalho de fazer algum exame. Disse,
apenas, que sua dor de cabeça não passava de uma gripe. M. levou sua gravidez
adiante e seu filho ao nascer foi diagnosticado com paralisia cerebral (PC). Depois
do parto, M. recebeu a confirmação de outro médico que tinha tido rubéola. Ela
retornou ao médico que fez seu pré-natal e o informou, ficando o mesmo apenas surpreso.
Damiana (nome fictício), tia de uma das crianças
com PC, menciona que a cunhada nunca quis ser mãe, era usuária de drogas e
abandonou todos os filhos, incluindo o que faz tratamento na instituição. Severina
(nome fictício) diz que não teve complicações na gestação e nem no parto. Mas
as demais acusaram como motivo das limitações de seus filhos complicações na
gestação e a demora no nascimento, culpabilizando os médicos.
Onde se encontrava a figura paterna nesse contexto?
A resposta de abandono dos companheiros após o nascimento das crianças foi
quase unânime. Os que ficaram manifestaram um abandono velado por essas crianças.
Os homens que se separaram já constituíram novas famílias. A forte arranhadura
narcísica sofrida no ego desses homens contribuiu para a separação já que, eles
buscavam em seus filhos sua imagem e semelhança e o que foge ou destoa do que é
espelho não é aceito. Feliciana (nome fictício) fala que seu antigo companheiro
a deixou e foi morar com outra mulher. F. diz que seu antigo companheiro sempre
quis ter um filho e com a atual mulher tenta ter um menino, mas só conseguiu
ter meninas. Ela diz que ele já tem um filho já que é isso que deseja, mas
observa que o ex não coloca o filho nesse lugar. Outro tema que veio à tona foi
o da locomoção de seus filhos. Todas afirmaram que não existe boa vontade dos
motoristas e cobradores de ônibus em ajudá-las a embarcar seus filhos nos
coletivos, não obstante os poucos que possuem elevadores. Não bastasse a
indiferença desses profissionais, ainda existiria a queimada de parada quando
elas estão sozinhas nos pontos de ônibus.
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Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo,
pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período
de psicologia.
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