Fonte: http://baixarbonslivros.blogspot.com.br/2010/01/interpretacao-dos-sonhos-freud.html
Os
Bastidores da Teoria dos Sonhos, uma História Psicanalítica
What's behind the theory of dreams: a psychoanalytic
history
Jorge
Roberto Fragoso Lins *
RESUMO
Este artigo pretende fazer um breve apanhado histórico do que enfrentou Sigmund Freud ao participar a comunidade científica de sua teoria dos sonhos.
Palavras-chaves:
Bastidores,
sonhos, história psicanalítica.
ABSTRACT
This article intends to give
a brief historical overview of what Sigmund Freud faced with the scientific
community by participating in his theory about dreams.
Keywords: Backstage, dreams, psychoanalytic history.
Percurso
feito por Freud
Sigmund Freud foi o
filho mais velho entre sete de seu pai Jacob Freud, e filho do terceiro
casamento com Amalia Nathansohn. Sigmund nasceu
no dia 06 de maio de 1856, na cidade de Freiberg, na
Moravia ou Pribor, na República Tcheca. Do terceiro casamento ainda nasceram Julius,
Anna, Débora (Rosa), Marie (Mitzi), Adolfine (Dolfi), Pauline (Paula) e
Alexander.
Devido à difícil situação financeira em que a família atravessava, toda a família mudou-se para Viena, Áustria, onde o pai de Freud estabeleceu um comércio no bairro Leopoldstrasse.
O jovem Freud recebeu de seu pai uma educação judaica clássica, entretanto, aberta à filosofia do Iluminismo. E de sua mãe, grandes demonstrações de amor. Freud era adorado por Amalia, que o chamava de “meu Sigi de ouro”. No coração do jovem Freud ainda tinha um lugar especial reservado para sua governanta tcheca e católica, Monika Zajic, que tinha um apelido carinhoso de Nannie.
Nannie teve um importante papel na vida do jovem Sigmund. Foi através dela que o levava para conhecer as igrejas católicas e que lhe falava sobre o “Bom Deus”, que ele pôde ter uma visão além do judaísmo. A princípio, estas duas mulheres, mãe e governanta, foram as mais importantes na vida do jovem Sigmund, e muito provavelmente, desempenharam um sobreleve papel em sua aprendizagem da sexualidade, posteriormente, fonte de suas pesquisas.
Em 1873, Freud inicia os seus estudos de medicina, sofrendo preconceito por ser judeu. Logo, o jovem estudante se apaixona pela biologia de Darwin, dedicando-se a ela e ao positivismo. Freud toma a teoria darwiniana como modelo de todos os seus trabalhos. No ano seguinte, Freud estava disposto a viajar para Berlim e frequentar os cursos de Helmholtz, mas em 1875, viaja para Triestre, na Itália, e como bolsista, começa a estudar sobre as células nervosas das enguias machos de rio, tornando-se aluno do fisiologista Ernst Wihelm Von Brücke. Nesse período Sigmund conhece e se torna amigo de Josef Breuer. Em 1881, Freud recebe o título de doutor.
Em 1882, Freud noiva com Martha Bernays, vindo a casar-se quatro anos depois.
Freud, depois de formado, trabalhou por três anos como pesquisador no Hospital Geral de Viena, abandonando o cargo por questões financeiras. Acreditando nas virtudes do alcalóide de cocaína, inicia uma pesquisa sobre a droga. Ainda sem conhecer a ação anestesiante e da dependência que a droga provocava, administra a droga em seu amigo Ernst von Fleischl-Marxow. O efeito anestesiante da cocaína seria também descoberto pelo oftalmologista Carl Koller. Neste mesmo ano, Freud entra em contato com o médico Josef Breuer.
A relação de Freud e Breuer foi muito rica para a formação de Freud como psicanalista. Descobertas foram feitas e equívocos foram cometidos por Freud, mas tudo isso fazia parte do processo de amadurecimento dele. O caso que mais marcou a relação de trabalho de Breuer e Freud foi o de Bertha Pappenheim, de 21 anos, mais conhecido como o caso de Anna O.
Breuer desde 1880 já vinha trabalhando com Bertha e conseguira aliviar os sintomas de depressão e hipocondria (histeria) dela. Fazendo o uso da hipnose ele a induzia a recordar experiências traumatizantes sofridas por ela na infância. Breuer pensava que, enquanto Bertha estivesse sobre o efeito da hipnose, ela se lembraria de experiências que pudessem, por sua vez, ter originado alguns de seus sintomas. Ela, ao falar sobre suas experiências durante a hipnose, ao sair do transe hipnótico, se sentia mais aliviada dos sintomas.
Bertha apresentava depressão e
nervosismo, com um quadro de hipocondria com os mais variados sintomas (uma
condição na época denominado "histeria"). Em certos momentos se
acreditava paralítica, em outros acreditava estar impossibilitada de deglutir e
por algum tempo não conseguia comer ou beber água, mesmo estando com fome e
sede. Em outras ocasiões tinha distúrbios visuais, paralisia das extremidades e
contraturas musculares, perda de sensibilidade na pele, tosse nervosa, de modo
que sua personalidade ora era a de uma deficiente, ora a de uma pessoa normal.
Por vezes sentia-se incapaz de falar seu próprio idioma, o alemão, e recorria
ao Francês ou Inglês para se comunicar. Ao ser submetida a hipnose ela relatava
casos de sua infância, essa recordação fazia que se sentisse bem após o transe
hipnótico. Breuer chamou esse processo de Catarse.
Breuer por dois anos ficou
fascinado pelo caso de Bertha, e a mesma, ao término de cada sessão, sentindo-se
mais aliviada, referia-se em relação as sessões como se tivesse ocorrido uma
limpeza de chaminé ou o que chamava de cura pela palavra.
Breuer
percebia (assim ele disse a Freud) que os incidentes de que Anna O. se lembrava estavam
relacionados com pensamentos ou eventos que ela repudiava. Revivendo as experiências
perturbadoras durante a sessão de hipnose, os sintomas eram reduzidos ou
eliminados.
Breuer ensinou o seu
método para Freud e os dois sempre discutiam os casos dos pacientes que Freud
cuidava, como também as técnicas e os resultados dos tratamentos. Em 1893, os dois, em conjunto, publicaram um artigo sobre o método
desenvolvido, e dois anos depois, fizeram o livro que foi o marco inícial da
teoria psicanalítica, Studien über Hysterie, em português, Estudos sobre a
histeria. Esse livro é considerado o início da teoria psicanalítica, e valeu a
Breuer muitas críticas de seus próprios colegas médicos.
A relação diária entre
Breuer e Bertha fez com que ele ficasse seduzido por ela, e por sua vez, que
ela transferisse o amor que sentia pelo pai para ele, seu terapeuta. Sem os
dois se darem conta, estavam envolvidos em um processo de transferência e
contra-transferência. Freud, como exímio observador, matou logo a charada e
comunicou a Breuer o que de fato estaria acontecendo entre ele e Anna O.
Matilda Altmann, esposa
de Breuer, mostrava-se extremamente enciumada com essa relação tão próxima do
marido com Bertha. Breuer, por sua vez, sentia-se incomodado com aquela
situação e decide abandonar o caso. Mas, antes de abandonar o caso de Anna O,
ficou claro para Breuer que a hipnose poderia facilmente ser colocada de lado,
caso o médico de forma hábil, pudesse em sua conversa, provocar as recordações
mais difíceis de serem trazidas à consciência. Foi assim que ele compreendeu
que os sintomas que Bertha apresentava eram conexões
simbólicas com recordações dolorosas relacionadas à morte de seu pai, as quais
ela revelou durante a terapia.
A parceria entre Breuer e
Freud chega ao fim, por Breuer não aceitar a teoria de Freud sobre a recordação infantil de sedução. Freud
acreditava que as suas pacientes tinham sido realmente seduzidas quando
crianças. Só, então, mais tarde, foi que Freud admitiu que Breuer estava certo
ao contestar, quando dissera que essas memórias eram fantasias infantis. Os
médicos chamados "Breuerianos," continuaram a utilizar as técnicas
originais de catarse desenvolvidas por Breuer sem adotar as modificações
introduzidas por Freud.
As experiências
adquiridas ao lado de Breuer valeram para Freud chegar às seguintes conclusões:
O método de hipnose seria
ineficaz e o que proporcionaria o êxito do tratamento seria quebrar as naturais
resistências do paciente e fazer com que, parte do que estivesse recalcado no
inconsciente viesse para o consciente.
Freud entendeu que nos
histéricos e neuróticos existia um mecanismo de defesa que impedia que
conteúdos conflitantes e que faziam mal ao sujeito, que estavam trancados as
sete chaves no inconsciente, viessem à tona no consciente. Mas, não obstante a esta
defesa, provocaria no sujeito pensamentos perturbadores, ansiedade e fortes
sentimentos de culpa que interfeririam na atividade mental consciente,
consumindo energia psíquica vital em busca de liberação. O sujeito,
inconscientemente, travaria uma forte luta para defender-se das ideias
intrusivas.
Freud compreendeu que
existia uma associação livre, supondo que todas as lembranças estariam organizadas
numa rede da qual deu o nome de rede associativa, entendendo que uma recordação
levaria a outra e que seria possível recuperar e compreender lembranças que
seriam cruciais para o processo, mesmo que o paciente achasse irrelevantes ou
extremamente embaraçosas.
Freud também observou no paciente
uma atenção flutuante ao entregar-se à sua própria atividade mental
inconsciente. Ele se referia ao fluxo inconsciente das produções mentais do
paciente, a fim de estabelecer conexões entre o fio associativo das
comunicações alusivas e as lembranças esquecidas.
Freud concluiu que a maioria de seus
pacientes tinha como material reprimido ideias perturbadoras que estavam
ligadas à sexualidade, e que, muitas das ditas lembranças de acontecimentos
reais seriam resíduos de impulsos e desejos infantis, seriam de fato fantasias.
A ansiedade que seus pacientes sentiam seria fruto da libido reprimida que
desencadeava vários outros sintomas.
Com o caso de Anna O, pôde compreender o
estado de regressão, transferência e contra-transferência pertencentes ao
mecanismo de defesa.
Observou o quanto é importante o
analista está atendo a tudo que o analisando diz em seus atos falhos, o próprio
silêncio do paciente, a linguagem corporal e tantas outras coisas que são
manifestações do inconsciente. Saber o como interpretar as reações do
analisando.
E dentre a tantas experiências
observadas, a do insight, onde analisando mesmo passando por uma elaboração do
seu sofrimento emocional, vivenciando de bem de perto seus conflitos, consegue
reorganizar sua estrutura psicológica numa realidade mais saudável.
Em 1885, foi nomeado Privatdozent e ao ganhar uma bolsa para estudar em Paris, conhece o trabalho de Jean Martin Charcot.
O médico Jean Charcot foi um médico e cientista francês que teve o seu nome escrito nos anais da psiquiatria, na segunda metade do séc. XIX, um dos clínicos mais importantes e professores da França, fundador, juntamente com Guillaume Duchenne, da moderna neurologia. Suas pesquisas mais importantes foram a respeito das doenças do cérebro, das afasias, a descoberta do aneurisma cerebral e das causas de hemorragia cerebral.
Freud fica embevecido com o trabalho de Charcot sobre a histeria. Interessado em traduzir suas conferências para o alemão, o médico francês o convida para ser o tradutor de suas obras, convite este que é logo aceito. A partir daí, Freud passou a compartilhar de mais de perto dos trabalhos clínicos realizados por Charcot.
A relação de Freud e Charcot era muito próxima ao ponto de muitos comentadores identificarem a relação entre os dois como uma relação de pai e filho.
O período em que Freud esteve trabalhando com o médico francês é extremamente produtivo, Sigmund não era mais o mesmo que aportara na França. Desta relação, Freud se apropria de novos conhecimentos e seus pensamentos psicanalíticos cada vez mais vão amadurecendo.
Freud observou no trabalho de Charcot que mediante as sugestões provocadas em clientes sadios, ocorriam, em contrapartida, toda espécie de sintomas histéricos, dentre eles as paralisias histéricas.
Charcot surpreendeu a todos, comunidade científica e ao próprio Freud, ao afirmar que, a natureza íntima da histeria não seria orgânica, mas de origem psíquica, sendo, então, ela, resultado de conflitos internos desconhecidos do próprio doente. O médico concluíra a sua descoberta dizendo que a histeria era de fato uma doença e que poderia acometer tanto em mulheres como em homens, porém tendo uma predominância maior em mulheres. Salientou, também, que os fenômenos histéricos-neuróticos são regidos por leis verdadeiras, embora totalmente inconscientes e desconhecidas.
Em agosto de 1893, com a morte de Charcot, Freud foi o único aluno do médico que redigiu um obituário dedicado ao mestre e amigo. Nele, Sigmund elogia Charcot como clínico cuja argúcia do olhar era proporcional à capacidade de descobrir coisas novas; como mestre nos campos da neuropatologia e neurologia, um mestre capaz de cativar uma legião de alunos em suas lições abertas; como cidadão francês dotado de imenso repertório cultural e como aquele que, ao constatar o esgotamento da pesquisa anátomo-patológica, pôde resgatar a histeria do enquadre religioso e do descrédito médico conferindo-lhe o estatuto de objeto de investigação médico-científica.
O retorno de Sigmund Freud para Viena reservava algo muito importante para o mundo, a fundação da psicanálise.
Em 1887, já em Viena, por sugestão de Josef Breuer, Freud conhece Fliess, também médico. Desta relação surgiu uma forte amizade e Fliess tornara-se seu grande confidente e apoiador moral de suas pesquisas.
Fliess, entretanto, não era um simples ouvinte crítico das idéias de Freud - ele mesmo fez algumas contribuições científicas ambiciosas para a psiquiatria da época, para as quais pediu a confirmação do amigo.
Fliess foi o autor de três teorias que hoje se sabe serem pseudocientíficas, ou seja, sem fundamento científico: a primeira dela foi a da chamada neurose nasal reflexa, segundo a qual Fliess postulava haver uma conexão entre a mucosa nasal e os órgãos genitais. Segundo a teoria, uma maneira rápida e eficiente de curar uma neurose histérica, seria remover parte da mucosa e ossos internos do nariz.
A segunda teoria era a da bissexualidade inerente a todos os seres humanos, e que Freud chegou a incorporar ao seu corpo teórico. Finalmente, a terceira foi a teoria da periodicidade vital, que postulava uma espécie de biorritmo, pelo qual todos os processos vitais (os patológicos incluídos) se desenvolveriam segundo um ciclo que duraria 28 dias nas mulheres, e 23 dias nos homens. Segundo Fliess, esses vários relacionamentos numéricos poderiam ser úteis para determinar a hora para a recuperação após alguma doença, por exemplo e, até mesmo a data provável para a morte de alguém.
Teoria dos Sonhos
Foi na Conferência V
em que Freud aborda pela primeira vez e com bastante dificuldade, a respeito
dos sonhos como tendo um sentido, uma manifestação do psíquico de algo incômodo
e ao mesmo tempo bastante presente na vida do sujeito. Inicia sua fala mencionando que, sintomas
patológicos de determinados pacientes neuróticos teriam um sentido,
fundamentando-se, assim, no método e tratamento psicanalíticos. Abordou que no
decurso desse tratamento os pacientes, em vez de apresentar seus sintomas,
apresentavam sonhos. A partir de tais experiências, Freud começou a suspeitar
de que também os sonhos teriam um sentido e que este mesmo sentido seria uma
linguagem a ser decifrada. Portanto, demonstrariam uma forma de preparação para
o estudo das neuroses, pois os sonhos seriam por si mesmos, um sintoma
neurótico que ocorreria em todas as pessoas sadias, chegando ao ponto em sua
explanação que, partindo dos sonhos, o método psicanalítico poderia chegar a
quase todas as descobertas a que o levou a investigar as neuroses.
Freud tinha ciência de que tal perspectiva encontraria muita resistência no cenário científico, e foi se baseando nessa resistência que ele mesmo lança uma indagação desafiadora a respeito dos sonhos. “A maioria dos sonhos não pode absolutamente ser lembrada e é esquecida, salvo pequenos fragmentos. E de que modo a interpretação de material desse tipo pode servir com base de uma psicologia científica ou como método de tratar pacientes?”
Sua resposta foi clara e precisa ao dizer que grandes coisas podem ser reveladas através de pequenos indícios, e que existem sonhos claros e distintos, e que esta seria uma de suas definições em relação aos sonhos.
Freud, então, conta a respeito de uma de suas experiências.
“Era uma paciente que
se apresentou com estas palavras: ‘Tenho uma espécie de sentimento como se eu
tivesse ferido ou desejasse ferir uma criatura viva – uma criança? – não, mais
como se fosse um cachorro –, como se tivesse jogado de uma ponte, ou alguma
outra coisa.’ Podemos conseguir superar a deficiência da incerteza ao relembrar
sonhos, se decidimos que deve ser considerado como sonho seu tudo aquilo que
nos relata a pessoa que sonhou, sem levar em conta o que possa ter esquecido ou
tenha alterado ao recordá-lo.”
Ainda a respeito do caso mencionado que, não se deve considerar os sonhos sem importância e que, diante de sua experiência como clínico, observava que logo depois dos sonhos o estado de ânimo em que a pessoa acordava de um sonho perdurava durante o dia inteiro. Ele ainda fez uma colocação bastante importante.
“Os médicos têm observado casos nos quais uma doença mental começou com um sonho e nos quais persistiu um delírio originário de um sonho; têm sido relatados casos de personagens históricos que, em resposta a sonhos, se aventuraram a importantes empreendimentos. Podemos, pois, indagar qual deve ser a verdadeira origem do desprezo no qual são mantidos os sonhos nos círculos científicos.”
Sua resposta a então indagação desafiadora se completou ao dizer:
“Acredito que se
trata de uma reação contra a supervalorização dos sonhos em épocas antigas”. A
partir daí, Freud destacou vários casos de épocas antigas que tinham como a
premissa principal os sonhos.
Segundo Freud, nos sonhos experimentamos toda sorte de coisas e acreditamos nelas, ao passo que, não obstante, nada experimentamos, exceto talvez o estímulo perturbador isolado. O que é experimentado pelos sonhos vem predominantemente sob a forma de imagens visuais; sentimentos também podem estar presentes, assim como pensamentos que venham a se entrelaçarem.
Freud sempre declarou que não era fácil interpretar os sonhos e nem tampouco, a pessoa que sonhou fornecer uma perfeita descrição de seu sonho, pois um dos fatores seria o de descrever precisamente as imagens do sonho em palavras.
Sigmund Freud utilizou-se do método da interpretação dos sonhos para formular as leis e as características de um inconsciente surpreendente e desconhecido. Foi trilhando por esse caminho que ele conseguiu mergulhar no conteúdo recalcado, ou seja, impróprio para o próprio sujeito, e através de uma leitura feita dos sonhos, utilizando-se do método de associação, criou meios do que antes foi imperiosamente inaceitável e recalcado, pudesse vir à tona e ser superado. Em muitos casos de histeria que tratou, os sonhos estavam presentes como uma linguagem a ser decifrada.
No caso da histeria, o principal vetor que motivaria os sonhos seria a realização de um desejo que jamais poderia ser realizado, enquanto em estado de vigília.
“Quando não se trata de um desejo aceitável, dizia Freud, preferimos esquecê-lo. Este esquecimento será descrito como conseqüência de um mecanismo chamado “recalque”. O desejo recalcado, no entanto, permanece em algum lugar exercendo seus efeitos. Os sonhos são apenas um exemplo destes efeitos.
Em relação aos sonhos, querer buscar uma racionalidade que remeta a uma racionalidade imperante no estado de vigília, é algo extremamente desconexo e fora da realidade, pois os sonhos seguem um senso, um sentindo, uma obediência própria, mas não é por isso que represente algo evasivo, alheio e sem lógica, pois mesmo que possam a princípio denotar a aparência de peças soltas e sem nexo, existe um quebra-cabeça a ser montado adequadamente e todas as suas peças representará a própria vida do sujeito em suas verdades e fantasias.
Freud se referiu aos processos que ocorrem no inconsciente como processos primários, já em relação ao consciente, seriam os processos secundários. Entre um e outro estaria o pré-consciente que teria uma constante integração entre os dois outros.
O inconsciente em relação aos outros, dentro do mecanismo psíquico, é o maior e mais desconhecidos de todos. Suas duas características até, então, descoberta, são a da temporalidade e da busca de realizar seus impulsos a obter a satisfação, e é através das pulsões que atua como representante de uma realização imediata de um desejo ou necessidade, é que o inconsciente realiza a satisfação do prazer ou do gozo.
A teoria de Freud em relação à interpretação dos sonhos, nos reporta a considerar dois importantes mecanismos presentes nesse processo que são o da condensação e o do deslocamento.
No mecanismo de deslocamento, ele menciona que conteúdos que forma um todo, poderão ser representados por uma parte ou vice-versa. Partindo deste conceito, uma idéia pode ser representada por outra que, emocionalmente esteja associada a ela. Corriqueiramente tal fenômeno acontece nos sonhos, onde uma idéia ou coisa poderá representar outra. Um fenômeno semelhante também poderá ocorrer em estado de vigília, que é o da transferência, onde um indivíduo que apresenta um determinado sentimento em relação a uma pessoa poderá transferir este sentimento para outra pessoa de forma associativa.
A teoria psicanalítica do deslocamento apregoa a hipótese econômica de uma energia de investimento suscetível de se deslocar das representações e trafegar por caminhos associativos. O “livre” deslocamento desta energia é uma das principais características do modo como o processo primário rege o funcionamento do sistema inconsciente.
No sonho há também em funcionamento o mecanismo da condensação. Este mecanismo permite que um pequeno detalhe possa representar uma idéia completa.
Assim, concluo esta breve resenha sobre os Sonhos, com o que dizia Freud a respeito desses dois mecanismos representativos do inconsciente.
“Vemos como características isoladas de uma pessoa podem representá-la por inteiro ao se compor com outras características que representam outras pessoas. Assim, um personagem pode estar ocupando a função (que tem na realização do desejo) de toda uma multidão de personagens que não figuram no sonho senão por fragmentos”.
Encerro este artigo com uma frase escrita pelo próprio Freud, em sua primeira interpretação dos Sonhos (Die Traumdeutung).
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”.
Freud levou dois anos (1898 e 1899) para escrever o Livro Interpretação dos Sonhos. Nele, Sigmund Freud edificou os principais fundamentos da teoria psicanalítica, construindo como alicerce de sua obra.
REFERÊNCIA
Freud, Sigmund, 1856-1939. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud.
Edição standard brasileira. Rio de Janeiro. Imago, 1996.
Freud, Sigmund, 1915 – 1920. Escritos sobre a psicologia do inconsciente
de Sigmund Freud. Vol. II. Rio de Janeiro. Imago Ed., 2006.
Freud, Sigmund, 1923 – 1938. Escritos sobre a psicologia do inconsciente
de Sigmund Freud. Vol. III. Rio de Janeiro. Imago Ed., 2007.
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período
de psicologia.
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