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Por Jorge Roberto Fragoso Lins
Vive-se em um mundo que não
se admite a menor angústia, o menor sofrimento, a menor tristeza que logo se
busca o fim do mal-estar através da química. A cultura atual dentre outras
coisas posiciona-se contra qualquer tipo de mal-estar, o que nos deixa
intrigado se isso de fato é possível e nos reporta a dois questionamentos: que
tipo de estrutura psíquica é essa que não suporta a mínima angústia, a mínima
tristeza, o mínimo mal-estar que logo parte para a medicalização? Que sujeito é
esse que não suporta sofrer? Que indivíduo é esse que para se livrar de algum
mal-estar recorre as mais variadas dependências que, pelas repetições,
tornam-se compulsivas? Afinal de contas, o mal-estar representa fator constitutivo
do sujeito, pois significa algo de sua realidade e pelo que se parece,
deseja-se a todo custo fugir de qualquer realidade que traga infortúnios.
Segundo Melman (1992), “as
coisas começam a ir mal quando há um movimento de idéias, de modificações éticas
que começam a dizer que o mal-estar não é um bem”. A isso, leva-nos depreender que o sujeito contemporâneo
não busca se conhecer em sua integralidade corpo e mente. Isto, porque é
preferível a fuga ao doloroso embate de se reconhecer no sujeito do inconsciente,
onde serão reveladas suas verdades, retendo-se, assim, apenas a subserviência
de seu discurso consciente que é muito mais prazeroso.
O consumo apresenta-se como
um dos grandes imperativos desse novo tempo, ou seja, como um fenômeno que
representa a lógica do moderno hedonismo, a saber, a busca incessante do
prazer. Debord (2006) faz um neologismo interessante entre o consumo e a dita
por ele “sociedade do espetáculo”. O autor menciona um mundo regido pela
economia do consumo, tendo a mercadoria como centro absoluto da vida social,
gerando a passagem do ser para
o ter. Os objetos substituiriam
os valores éticos, onde ocorre uma ininterrupta fabricação de
“pseudo-necessidades”.
Debord demarca a
contemporaneidade centrando o triunfo do individualismo em associação ao
consumo e como demanda incessante de prazer, criando modelos de subjetivação
que acentuam a “exterioridade” e “autocentramento”. Freud (1856-1939) dizia
que, “o que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da
satisfação (de preferência, repentina) de necessidades representadas em alto
grau, sendo, por sua natureza, possível apenas com uma manifestação episódica.
Quando qual que situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela
produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue.”
Quanto mais nos desviarmos
do núcleo íntimo de nossos problemas, de nossas ansiedades e angústias que já
se tornam insistentemente presentes em nosso psicológico, em nosso dia-a-dia, fugindo
de nós mesmos e alienandos-nos em prazeres paliativos, prolongaremos ainda mais o nosso sofrimento.
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Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo,
pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período
de psicologia.
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