sexta-feira, 26 de julho de 2013

COMO A SOCIEDADE VEM REAGINDO AO SEU MAL-ESTAR?


* Por Jorge Roberto Fragoso Lins

Vive-se em um mundo que não se admite a menor angústia, o menor sofrimento, a menor tristeza que logo se busca o fim do mal-estar através da química. A cultura atual dentre outras coisas posiciona-se contra qualquer tipo de mal-estar, o que nos deixa intrigado se isso de fato é possível e nos reporta a dois questionamentos: que tipo de estrutura psíquica é essa que não suporta a mínima angústia, a mínima tristeza, o mínimo mal-estar que logo parte para a medicalização? Que sujeito é esse que não suporta sofrer? Que indivíduo é esse que para se livrar de algum mal-estar recorre as mais variadas dependências que, pelas repetições, tornam-se compulsivas? Afinal de contas, o mal-estar representa fator constitutivo do sujeito, pois significa algo de sua realidade e pelo que se parece, deseja-se a todo custo fugir de qualquer realidade que traga infortúnios.

Segundo Melman (1992), “as coisas começam a ir mal quando há um movimento de idéias, de modificações éticas que começam a dizer que o mal-estar não é um bem”. A isso, leva-nos depreender que o sujeito contemporâneo não busca se conhecer em sua integralidade corpo e mente. Isto, porque é preferível a fuga ao doloroso embate de se reconhecer no sujeito do inconsciente, onde serão reveladas suas verdades, retendo-se, assim, apenas a subserviência de seu discurso consciente que é muito mais prazeroso.

O consumo apresenta-se como um dos grandes imperativos desse novo tempo, ou seja, como um fenômeno que representa a lógica do moderno hedonismo, a saber, a busca incessante do prazer. Debord (2006) faz um neologismo interessante entre o consumo e a dita por ele “sociedade do espetáculo”. O autor menciona um mundo regido pela economia do consumo, tendo a mercadoria como centro absoluto da vida social, gerando a passagem do ser para o ter. Os objetos substituiriam os valores éticos, onde ocorre uma ininterrupta fabricação de “pseudo-necessidades”.

Debord demarca a contemporaneidade centrando o triunfo do individualismo em associação ao consumo e como demanda incessante de prazer, criando modelos de subjetivação que acentuam a “exterioridade” e “autocentramento”. Freud (1856-1939) dizia que, “o que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades representadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas com uma manifestação episódica. Quando qual que situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue.”

Quanto mais nos desviarmos do núcleo íntimo de nossos problemas, de nossas ansiedades e angústias que já se tornam insistentemente presentes em nosso psicológico, em nosso dia-a-dia, fugindo de nós mesmos e alienandos-nos em prazeres paliativos,  prolongaremos ainda mais o nosso sofrimento.     
                                                                                                            
* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo, pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise e graduando do 8º período de psicologia.




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