quinta-feira, 11 de julho de 2013

CONSUMO COMPULSIVO, UM CONSUMO PATOLÓGICO




* Por Jorge Roberto Fragoso Lins 

O consumo patológico, uma das modalidades inseridas nas categorias das adicções, é fruto de uma fragilidade do sujeito contemporâneo em seu imperativo egóico de defesa e da perversão econômica que o mesmo se submete, com o objetivo de tamponar suas angústias, ansiedades, enfim, seu mal-estar. A compreensão equivocada de uma gratificação emocional proporcionada pelo ato compulsivo leva o indivíduo a buscar a homeostase de sua tensão psíquica de forma exagerada como o consumo exacerbado, sem levar em conta o saldo bancário, o de se alimentar compulsivamente, o jogo, a dependência da internet, a pratica exagerada de atividades físicas ou a vigorexia, a obsessão pelo corpo esculturalmente perfeito e tantas outras práticas. Conforme Fromm (1977), essas práticas poderão ser compreendidas em uma única frase: “eu sou o que tenho e o que consumo”.

A sensação de satisfação de ter, mesmo que esta seja passageira, corrobora com o sentimento de consumir mais ainda. O consumo compulsivo ou patológico leva o indivíduo ao endividamento e muitas vezes a contrair empréstimos para sanar os gastos. No entanto, como o consumo é compulsivo, pois o que está em jogo é o mal-estar que se vive, logo se cai na tentação de novas compras e o endividamento aumenta, criando, assim, uma bola de neve que cada vez mais só tende a crescer. O individualismo que reina atualmente leva o sujeito a estar e viver solitariamente, buscando preencher esse vazio no consumismo e nas mais variadas dependências.

Conforme Marx, a relação de dominação e exploração existente entre patrão e empregado é encoberta pelo fetichismo da mercadoria no momento em que ela se apresenta – aparência – na relação de troca. Desde a época de Marx até os tempos atuais, o que se observa é que esse fetichismo que adorna as mercadorias toma uma importância bem maior do que a própria necessidade de se ter o objeto.

O conceito de consumo dado pela economia, restringi-se ao ato de comprar alguma mercadoria ou bem, visando a satisfação de determinada necessidade ou demanda. Consumir, contudo, não se resume só a essa concepção, pois atualmente o que mais se consume é a imagem que poderá ser de algum objeto, um objeto quase sempre de fetiche, e a imagem do outro, como forma de encontrar o significado da própria existência. Portanto, quando uma idéia ou alguma coisa é lançada através da imagem e da publicidade e que consegue produzir um forte apelo midiático a atingir o imaginário do sujeito, provocando um efeito que por analogia iremos compará-lo ao da letra quando cola no corpo – termo psicanalítico –, a imagem oferecida pelo objeto é incorporada pelo sujeito com o seguinte apelo: “você pode ter” ou então “o que você está esperando para ter?” Essa imagem pode ser, por exemplo, a de um carro perfeito para a família com um espaço amplo na mala ou de um carro esportivo admirado por homens e mulheres, uma jóia, uma viagem ou mesmo um corpo esculturalmente perfeito.

O esvaziamento do desejo produz apenas o efeito de significação e mostra o quanto o sujeito está desamparado de significantes que o nomeie como sujeito desejante, restando-lhe, apenas, o gozo imaginário que o outro oferece. Na significação, a imagem ocupa o lugar do ser (que é, de fato, um lugar vazio); do ponto de vista da constituição subjetiva. Se o ser produz uma ilusão de identidade quando o sujeito encontra a sua imagem, o ser se ancora na fortaleza narcísica da imagem do corpo.

* Jorge Roberto Fragoso Lins é sociólogo e pós-graduado em intervenções clínicas em psicanálise, graduando do 8º período de psicologia. 
  



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